O grito já cessara, mas continuamos a nadar. Passei de relance por algo vermelho cintilante e parei de nadar, sendo envolvido pelas bolhas.
"Gente, vem cá!" Chamei Guto e Norato para onde eu estava. Eles nadaram até mim e observamos escondidos algo muito estranho. O tritão vermelho estava numa espécie de clareira de pedras, todo amarrado com panos amarelados e preso numa rocha. Ao lado dele estavam duas criaturas muito esquisitas. Eram homens musculosos com cabelo estilo moicano, costas musculosas, pele negra e em vez de pernas haviam tentáculos de polvo. Sinistro!
"Droga... Filhos de Kraken." Guto sussurrou mentalmente.
"O que são essas coisas?" Perguntei.
"Com certeza não são os melhores amigos das sereias. " Norato pensou. O tritão fora feito refém deles. O que podiamos fazer a respeito? Ousei nadar um pouco para frente, mas Norato pôs a mão em meu ombro, me impedindo.
"Mano, você não pode com eles. É muito perigoso. " Ele pensou seriamente. Quase concordei com ele. Mas lembrei-me de um negócio.
"Mas eu posso combatê-los. Esperem aqui."
"Espera!"
"Pedroo!!" Os dois me chamaram mentalmente, mas não ouvi. Nadei silenciosamente até o tritão loiro. Ele virou o rosto e esbugalhou os olhos para mim. Fez um "Mmmfff!!" com a boca tampada.
"O que tá fazendo aqui?" Ele pensou.
"Confia em mim. Vou te tirar dessa. " Eu pensei, escondendo-me atrás da rocha onde ele estava amarrado. Aproveitei e olhei para os lados e vi que em uma rocha estavam três pedras brilhantes. Eram lindas. Tinha uma rosa em forma de golfinho, uma azul-clara em forma de tartaruga e uma verde em forma de sapo encolhido. Essa ultima foi a que mais me chamou atenção. Não só pela cor, mas pela sua forma suave e peculiar com que era feita. Os homens polvo nadaram até ele e sorriram maleficamente.
"E aê mané? Cadê aquela parada que te mandamos?" Um deles pensou. O moicano dele era feito de Dreads,muito nojento.
"Não sei do que estão falando." Ele respondeu. O cara-de-polvo prendeu o maxilar dele e olhou bem fundo em seus olhos. Senti uma grande energia fluindo da pedra. Perguntei-me o que era. Mas percebi que não era da pedra, e sim do tritão amarrado nela. Os olhos dele ficaram vermelhos e começaram a brilhar. Ele ia usar o poder dele (talvez fosse raio laser), mas o cara-de-polvo enfiou uma pedrinha branca na testa dele, enfiando na pele com força. O tritão loiro soltou um monte de bolhas, como se estivesse gritando. Era minha hora de agir.
Ergui-me da pedra e agarrei os braços do Filho de Kraken. Soltei toda minha energia elétrica, fazendo-o balançar-se mais que vara verde. Quando o soltei, caiu no chão atordoado com o choque. O outro Filho de Kraken apareceu e foi atrás de mim.
Mas Guto soltou seu grito estridente, fazendo-o encolher-se e tampar os ouvidos.
"Norato! Pega ele! " Chamei. Norato veio em disparada até mim e ergueu o tritão de cauda de Pirarucu vermelho e saiu nadando com ele. Estavamos nadando em disparada, quando os polvos acordaram e começaram a vir atrás de nós.
"Precisamos achar o Acquatransporte!" Norato pensou, carregando o tritão loiro nas costas e nadando velozmente. Enquanto nadava como um torpedo, procurei uma bolinha azul brilhante.
"Ali!" Guto exclamou mentalmente. Viramos a esquerda e tocamos a luz com o dedo indicador.
Depois de muita turbulência, paramos numa piscina. E para a sorte de todos, a MINHA piscina.
-Vocês também pensaram na minha casa? - Perguntei, agora que estávamos todos com as cabeças para fora da água.
-Não. - Guto respondeu - É que sua piscina é um sonho de consumo mesmo.
Rimos um pouco com aquilo, e depois me lembrei:
-Cadê o...?- Porra, eu nem sabia o nome do cara. Um gemido nos fez olhar pra trás. O tritão loiro de cauda vermelha estava boiando e gemendo. Tratamos de levá-lo para dentro e o secamos. Ele acordou e olhou para nós assustado.
-Calma aê, mano. Somos da paz. -Guto falou. Ele se acalmou e sentou na cama. Vendo-o mais de perto naquele momento, percebi que ele carregava um colar muito legal no pescoço. Era uma longa corda de fios pretos intrincados com um pequeno peixe feito de rubi como pingente, que destacava-se em sua pele branca e rosada. Era demais. Tirei minha atenção do colar e me voltei a ele.
-A gente nem se apresentou direito. Eu sou o Pedro, esse é o Norato e o Guto.
-Oi.
-Beleza?
Ele nos comprimentou com um forte aperto de mão.
-Sou Samuel. - Ele falou. Nome legal. Combina com ele.
- Cara, que colar legal! - Norato disse, tocando-o curiosamente. Samuel deixou que nós o tocássemos. Era duro e resistente, mas ao mesmo tempo macio e quente.
-Onde conseguiu isso? - Norato perguntou.
-Foi naquele lugar onde nós estav... - Samuel se interrompeu. Sua face foi mudando aos poucos de calma para desesperada. - As pedras! Eles não podem pegá-las!
-Perê,peraê. Como é? - Guto perguntou.
-Os filhos de Kraken estão com os muiraquitãs. Eles tem quase todos, só precisam do meu. - Ele falou.
-Mas pra quê eles querem essas pedrinhas? - Guto perguntou. Samuel franziu a testa.
-Não são pedrinhas quaisquer. São pedras feitas pelas Amazonas. Elas foram a primeira tribo de sereias no mundo. E de todos os milhares de muiraquitãs, sobraram apenas quatro. O que eu estou usando é o do peixe-rubi. Ainda tem o a tartaruga-azul, o boto-turmalina e( a mais conhecida) a rã de jade e ônix.
Caramba. Devia ser mesmo muito importante. Samuel continuou:
-As Amazonas as usavam para adquirir o poder total da Lua e livrar-se de seus inimigos. E os filhos de Kraken querem usá-las pra ressucitar seu pai.
-O Monstro Kraken! - Exclamei.
-Caralho!- Guto levou a mão à boca.
-Fuuu....- Norato exclamou.
-É, man. Nem me fala! - Samuel disse.
No fim, prometemos ajudá-lo a recuperar as pedras. Nós conseguiriamos. Quatro caudas velozes são mais poderosas que uma.
Então, aproveitando que minha mãe não havia chegado, ficamos conversando sobre outras coisas. Tipo, falamos de video game, de garotas e de video-game de novo. Caramba, o Samu sabe muita coisa! O cara é um gênio. Ele disse que estuda no nosso colégio desde a semana passada, ele foi transferido. Só que ele tem dezessete anos e estuda no terceiro ano.
Enfim, todos já foram embora. Estou terminando de escrever isso no meu diário. Espero que amanhâ consigamos recuperar essas pedras. Me deseje sorte.
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