sábado, 16 de outubro de 2010

Capítulo 8- Tritões se completam Parte 1




Caramba, que calor hoje está fazendo! Mas não foi disso que vim pra falar. Hoje aconteceu algo realmente... Ah, vou só escrever.

No final da aula, todo mundo saiu correndo da sala. Todos estavam pingando de suor e pareciam estar morrendo de fome. Minha barriga parecia um motor de trator de tanto que urrava. Eu e meus amigos Guto e Norato fomos pra fora e começamos a andar. Até que meu celular tocou.

-Pô, mãe! Tá um calor de matar!... Tá... Tá bom.... Tá, Tchau. - Desliguei. SACO!

-Que é que houve? - Norato perguntou.

-O Ricardo teve problema de diarréia de novo e a mãe teve que deixá-lo correndo no hospital. Eu disse praquele moleque não comer tanta Maria-Mole! - Falei - E agora a mãe disse que não vai poder me pegar tão cedo e pediu pra ir pra casa de ônibus.

-É... Isso é foda. - Rato concordou.

-Entãão... - Guto falou - Que tal irmos nadando?

-Humm! Boa ideia! - Rato disse. Não entendi. MESMO.

-Err... Acho que vocês esqueceram que o mar fica a uns dez bairros daqui! - Falei seco.

-Ô cabeça de bagre! É só a gente achar uma poça d'água e usar o aquatransporte. - Guto falou, começando a procurar por algum sinal de água pela rua. Aqua- O quê? Que diabos era aquilo que ele havia falado? Sem querer saber muito, comecei a procurar também.

- Achei! - Norato falou. Seguimos para onde ele apontava e ficamos de cócoras da calçada quente.

-Tá bom. Que é que vem depois? - Perguntei.

-A gente espera até aparecer uma luzinha azul e coloca a mão nele. Ai somos transportados pra onde quisermos. - Guto falou. Ficamos olhando para a poça e, para minha surpresa, uma bolinha azul e brilhante apareceu do nada. Norato ergueu o dedo, como se fosse tocá-la, seguido de Guto. Fiz o mesmo.

-Pensem na beira mar. - Falei. Fechamos os olhos e pensamos no mar esverdeado e os prédios enormes e iluminados pelo sol. Então, não consegui me conter. Comecei a gritar. Estavamos dentro de um turbilhão de água, transformados em tritões e indo para algum lugar distante. Em poucos minutos, o turbilhão se dissipou e paramos no mar quente e verde da Beira Mar.

"Legal, né?" Norato pensou, balançando sua cauda de serpente marinha azul animadamente.

"Demais! " Respondi, começando a nadar. Nós três fomos nadando pelos corais, passando por buracos comprimentando peixes e acariciando as algas escorregadias. Deixamos que o mar nos levasse até debaixo de um píer, escondido de todos. O vai e vem da água refrescava tudo mesmo.

Foi ai que vimos algo digno de atenção. Um cara alto, mais ou menos da nossa altura, apareceu na praia. Observamos através da rocha debaixo do píer. Ele tinha cabelos curtos e loiros, um corpo branco e forte, e olhos azuis. Pô, sem querer ser gay, mas o cara era bem apresentável. Igual a todos nós.

O mais esquisito foi que o cara pulou no mar e não voltou. Instintivamente, rastejei até a água e entrei no mar.
- Pedro! Tá indo aonde? - Guto perguntou. Não respondi e mergulhei nas ondas. Norato e Guto me seguiram e nadaram junto de mim. Olhei ao redor e vi ao longe uma grande cauda de peixe pirarucu.
"Pirarucu?" Norato perguntou mentalmente.
"Achei que só existisse na Amazônia!"Guto pensou. Concordei com ele. Continuamos seguindo aquela coisa e vimos que não era um peixe. Era a cauda de um tritão.
O garoto que vimos mergulhar no mar estava nadando sossegadamente com uma enorme cauda cor-de-vinho de pirarucu. Observei que ele trazia algo brilhante na mão. Uma luzinha avermelhada irradiava da mão dele e refletia em nossos rostos, misturando-se com a luz do sol iluminando a água do lado de cima.
"O que será isso que ele tá levando?" Perguntei mentalmente. Guto e Norato balançaram os ombros em resposta. Continuamos a seguir o cara, e nos afastamos mais do que pretendiamos da praia.
Ele finalmente parou. Olhou para trás, como se desconfiasse que estivesse sendo seguido.
"Se escondam!" Gritei mentalmente para meus amigos. Nós três nos escondemos atrás de uma pedra. Eu já ia ver se ele tinha recomeçado a nadar, quando vi os cabelos pretos com mechas azuis de Norato balançando como algas.
"Seu cabelo!" Pensei, gesticulando com o dedo indicador. Norato levantou o braço para puxar o cabelo para baixo, mas foi surpreendido pelo outro tritão. Ele apareceu de trás da rocha e nos fitou com a cara séria. Nós três nos esquivamos e o encaramos com cara de culpados.
"Vamos... Dar... O fora!" Guto sussurrou mentalmente.
"Nem pensem nisso. " O outro tritão pensou. Apesar de estar debaixo d'água, engoli em seco. Ele parecia com raiva. O que ele iria fazer conosco? E que poderes ele tinha? O tritão vermelho cruzou os braços e apertou os olhos para nós. "Por que estavam me seguindo? Quem são vocês, afinal?"
Ficamos um minuto em silêncio. Guto e Norato viraram os olhos para mim, já que eu sou sempre o porta voz do grupo. Olhei para o tritão loiro e pensei:
"Err... Desculpa se estávamos te perseguindo, cê deve ter se sentido incomodado... - Eu ri. E ele não. Continuei: " É que vimos que você é dos nossos e... Bom, se você quiser ir nadar com a gente..."
Ele pensou um pouco, depois remou com a cauda para cima e voltou a nadar.
"Desculpa. Sou um lobo solitário. Não ando em bandos. "
E foi embora. Caramba, será que todos os tritões e sereias são assim?
"Humpf... Cara arrogante. Vamo nessa, já tá ficando tarde. " Guto pensou.
"Ainda não." Respondi, e voltei a seguir o tritão vermelho, que já ia longe no mar. Guto soltou bolhas de raiva e se juntou a mim, seguido de Norato.
"Pedro, mano, POR QUE você sempre insiste em fazer amiguinhos por todo canto, velho? Quando é que tu vai sacar que nem todo mundo quer ter amigos?"
"Cara, você não entende. Eu não quero ficar amigo dele só por ficar mesmo. Eu... Sinto que há uma conexão entre nós. Com o Rato foi a mesma coisa. " Respondi.
"É, valeu por isso. " Norato disse, batendo de leve em meu ombro.
"Entendeu? Eu sinto que temos que ficar amigos daquele cara. "
"Num sei não... " Guto resmungou, parando de nadar.
"Cê confia em mim?" Perguntei, parando de nadar também. Ele fechou a cara e olhou pra mim.
"Tu sabe que sim, mano. Tu é meu brother. " Ele pensou." Mas não tem sentido ficar correndo atrás de ..."
Nesse exato momento, ouvimos um grito sufocado debaixo d'água. Mais que depressa, eriçamos as barbatanas e disparamos na água, seguindo o eco do grito.

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