Capítulo 13- Tritões saem dos Eixos Parte 01

A água estava escura, quente e viscosa. Devia ser noite. Pisquei os olhos duas vezes e fiz com que meus olhos brilhassem como os de um peixe lanterna. Continuei nadando, sem saber exatamente para onde estava indo, até que ouvi vozes na superfície da água. Uma sombra estranha estava acima de mim; um barco. A lua cheia deixava seu reflexo perfeitamente visivel. Nadei para cima, sentindo a água puxar meus cabelos para baixo.

Coloquei a cabeça para fora da água e vi uma menina sentada no barco, os remos caidos dos lados. Ela olhava em volta, preocupada com algo. Mas eu conhecia aqueles cabelos cor de mel de algum lugar.

A menina virou o rosto e olhou para a água, deparando-se comigo. Ela soltou um gritinho de susto e afastou-se. Levei os braços para fora e debrucei-me na borda do barco.

Era Lucia. Tão linda e delicada como ela sempre fora.

-Pedro?

Eu assenti. Eu simplesmente não conseguia parar de olhá-la.

-Er... O que faz... Na água, a essa hora da noite?- Ela perguntou, um pouco timida.

-Nadando. - Eu respondi, balançando minha enorme barbatana debaixo d'água. - E você? O que uma menina linda faz num barco a essa hora?

Pela fraca luz vinda da lanterna a óleo que ela trazia vi que ela ficou com as bochechas vermelhas.

-Eu tava só... Dando uma passeada para a...

Não deixei que ela terminasse.

Comecei a cantar, e até me surpreendi como minha voz soou grossa, masculina(não que ela fosse aviadada) e sedutora. Lucia abriu a boca um pouco, e vi seus dentes perfeitos. Ela foi se aproximando de mim, enquanto eu aproximava meu braço de seu rosto. Senti a pele quente dela, e senti minha voz mágica de tritão ecoar pela noite.

Eu queria tanto ela... Queria abraçá-la, não soltá-la nunca mais. E era isso que eu faria.

Eu a puxei delicadamente para mim, e ela foi deixando-se levar para dentro da água. Ela mergulhou junto de mim.

E ao brilho do luar, nós nos beijamos com fervor. Eu entrelacei meus braços na cintura dela, e a cauda entre suas pernas. Ela agarrou meu rosto e foi procurando minha boca cada vez mais. Porém, subtamente ela parou. Olhou para mim com tristeza, como se pedisse desculpa.

"Não posso fazer isso."

Eu ouvi um pensamento. Devia ser o dela.

Então, o inesperado aconteceu. Vi coisas brancas nas costas de Lucia surgirem preguiçosamente, e expandirem-se ao redor dela. Soltei bolhas de ar ao perceber que eram asas.

Rapidamente, ela tomou impulso, e as asas de águia as levaram para fora d'água, desparecendo no céu. E eu fiquei ali, a ver o reflexo da lua.

Bom, antes do professor me acordar.

-Estudando até tarde hein, Pedro? Que tal garantir sua vaga numa faculdade desde já, huh? - Ele perguntou, debochando de mim por estar dormindo na sua maravilhosa aula, como se eu fosse o único. GERAL de cabeça na cartera, e ele chama só a minha atenção.

Mais tarde, no recreio, eu e meus amigos nos reunimos. Ficamos falando daquele fiasco de jogo que fora o do domingo passado, e botamos o papo em dia.

-Eu tive um sonho estranho, sabe. Era tipo... Eu encantando a Lucia.

Pensei que eles fossem fazer um tipico "Hmmm... Alguem tá pagando pau pra Lucia", mas eles me fitaram com olhos arregalados e depois se entreolharam.

-Que é que foi?- Perguntei.

-Eu também sonhei... Que tava encantando uma menina. - Samuel falou.

-É também. - Norato falou.

-Somos quatro. - Guto falou.

Ok, ou aquilo era um tipico clichê de sonho de tritão, ou algo estranho tava acontecendo.