quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Capítulo 19 - Tritão em perigo

   Justo quando eu achava que minha vida já estava cheia de maluquices...

   Segunda passada foi o primeiro dia do Raíque na nossa escola. Ele ficou na mesma sala que eu, o Norato e o Guto. O professor apresentou ele pra turma, e mandou ele se sentar. Nossa, devia ter visto como as meninas estavam. Elas ficavam cochichando umas com as outras, todas olhando pra ele com os olhos brilhantes. É que, além de ter poder de "beleza-sobrenatural" como tritão, o Raíque sempre foi muito bonito. Ele, sem nenhum pingo de timidez, foi até uma carteira à minha frente, e todas as meninas olhavam para ele andando. Safadas.

      Como eu e o Guto já estavamos cheios de advertencias por conversar na hora da aula, nós quatro conversamos por telepatia.
      "Ei, cadê a mina que tu gosta? Ela estuda nessa sala?" O Raíque perguntou sobre a Lucia. Antes que eu pensasse alguma coisa, o Norato respondeu por mim.
       "É aquela ali, com cabelo curtinho e repartido, com munhequeira cor de rosa." Ele falou. Raíque procurou com o olhar e quando finalmente a encontrou, arregalou os olhos.
        "Uuuuhh, Pedrãão!! Que fisgada hein?" Ele pensou, sorrindo. O Guto e o Norato riram silenciosamente e eu fiquei vermelho.
       "Bom, eu não fisguei ela..."
       "...Ainda!" Guto completou. Eu não desmenti.
       Depois dea primeira aula ter acabado, o Raíque bufou e jogou a cabeça pra trás.
       "Não me diz que aquele é o Davi, PELO AMOR DE DEUS." Ele pensou, olhando pra mim com uma cara de exaustidão. Olhei para a frente dele e vi nosso arqui-inimigo com cabelo loiro tingido(muito mal tingido) com moicano mal feito, tentando imitar o Neymar. Tentando.
          Respondi à pergunta dele com um balançar positivo da cabeça.
          "Esse bicho continua ridiculo como sempre, é incrivel!" Raíque pensou. Assim que ele virou de volta para a frente, lá estava Davi, com as mãos na cintura, com o Vitor e Claucio atrás dele.

          -Olha só! Quem é vivo sempre aparece. - Ele falou, olhando para Raíque com cara de deboche. Meu amigo se ergueu na cadeira e olhou Davi bem nos olhos.
         -Pois é. Tô aqui. - Ele falou, dando o mesmo sorriso falso para Davi. Meu estômago já estava ficando frio. Quando eram pequenos, o Davi e o Raíque viviam se atracando, batendo um no outro como cães e gatos.
         -E foi logo se juntar no grupinho das bibas da Pedrita, né não? Cê não muda mesmo né, Raíque. - Ele falou, fazendo Vitor e Claucio rirem. Eles já estavam começando a se virar para se sentar, quando Raíque começou a rir.
        -Wow, falando assim, parece até uma biba enrustida. - Ele falou. - Daquelas que aponta pros outros pra não ser apontada.
       "Exatamente o que eu digo. " Guto pensou, dando um sorriso maligno. Aquilo não ia acabar bem.
       -Quero ver tu repetir isso na minha cara. - O Davi falou, quase enfiando o nariz arrebitado dele na cara do Raíque. Ele apenas riu.
       -Que foi, tá nervosa? - Raíque perguntou, se divertindo com aquilo.
       "Caraca! Ele é bom, viu!" O Norato pensou, arregalando os olhos de entusiasmo.
       "Haha! Isso tá ficando massa!" Guto riu/pensou.
        "Ah, Meu..." Eu pensei, ficando nervoso.
        -Tão vendo, galera? Esse nosso colégio de merda tá mesmo nescessitando de dinheiro... Tanto que foi até abrir as portas da favela e pegar isso aqui. - Davi falou, estreitando os olhos para o Raíque. Norato deixou a boca cair, Guto fez um "Uuuhh..." silencioso. Agora já chega. Davi passou dos limites. Eu me levantei e fui para o lado dele. Porém, Raíque se defendeu. Ele agarrou o braço do Davi e começou a apertar.
        -Eu digo e repito: Cê tema algum probleminha sim. E, só pra te informar, eu não sou da favela. E se fosse, teria muito, mas muito orgulho de ser. E se você não quiser que eu quebre o teu braço agora, vai te sentar e ficar de boca calada. Ou vai ter que aguentar nós quatro.
       -Cinco. O Samuel não tá aqui, mas seria o primeiro a ir. - Guto falou. Olhei para trás e percebi que ele e Norato estavam atrás de mim, olhando ameaçadoramente para o Davi. Este, apesar de não demonstrar, estava se borrando nas calças. Ele se soltou do Raíque e, com um risinho, foi se sentar bem longe da gente.
       -Que filho da pu...- Guto ia começando.
       -Olha a boca! - Eu falei.
       -Como ele pode ser tão idiota, sério? - Norato perguntou. Raíque riu.
       -Esquenta não. Isso tudo é despeito.  - Ele disse, relaxando na carteira.
       -Mas, sério... O que foi que a gente fez pra ele? - Norato perguntou. Eu também me pergunto isso faz anos. Mas sei que não somos nós que devemos adquirir essa resposta.

        No recreio, nos reunimos com o Samuel, onde sempre ficavamos, num canto reservado atrás da quadra. Conversamos sobre o que houve com o Samu, e ele, claro, ficou "P" da vida. Ele odiava o Davi tanto quanto cada um de nós, mas eu sinceramente achava que era inveja por ele ser loiro natural e o Davi não.
       Olhei para os meus amigos. Todos estavam com seus muiraquitãs debaixo da farda. Eu toquei no meu mas... Ele não estava lá. Procurei nos meus bolsos, e também não estava lá. Foi quando lembrei que havia deixado na minha cabeceira.
      -O que foi? - Norato perguntou, percebendo minha agitação.
      -Nada, só esqueci meu muiraquitã. - Falei. Eles quatro arregalaram os olhos.
      -Esqueceu? - Guto perguntou sem acreditar.
      -É. Porque? - Perguntei.
      -Sem o muiraquitã, você vai estar a mercê da água! - Samuel falou.
      -É o quê, man? - Guto perguntou. Samuel revirou os olhos para ele.
      -Quer dizer que se você se molhar, você vai virar tritão na frente de todo mundo! Que nem antigamente. - Samu falou. Fruta que Caiu... Tinha me esquecido completamente disso! Também, faz tanto tempo que aquele negocio de ficar com medo de cada gota de água que me molhar acabou, que nem me preocupei mais com isso.
      -Ih, ele tá ficando nervoso. - Guto falou, apontando para mim.
      -É, tá começando a ranger os dentes e fazer cara de atriz de cinema. Tipo... Oh! Oh! OOH! - Raíque falou, fazendo poses dramáticas e gemidos de donzela indefesa. Os outros três riram a beça, mas eu continuei nervoso. Eu olhei para os cantos e vi que todo mundo tinha pelo menos um copo de coca cola na mão, um bebedouro bem à minha esquerda... Então, resolvi voltar mais cedo pra sala de aula.
       -Gente, eu vou lá em cima. Não tô me sentindo muito seguro aqui.- Falei, deixando meus amigos rindo. Subi os lances enormes de escadas e entrei na minha sala. Acho que a supervisora devia ter ido lanchar. Abri a porta da sala sossegadamente,quando... Um jato de água lavou a minha cara.
       Davi estava dentro da sala, rindo aos montes da minha cara de assustado e molhado.
       -Pensei que fosse o Raíque, mas você também serve! Hahaha... - Ele ria incontrolavelmente.
       -Seu viado idiota filho da puta! Eu devia... - Eu ia partir pra cima dele, mas lembrei dos dezesseis segundos. Esqueci do Davi e fui correndo pegar a minha bolsa. Talvez tivesse uma toalha reserva nela.
 Desesperado, alcancei a minha carteira e a abri freneticamente.
        -Que é que tu tem, viado? Isso é só água. Que foi? Acabei com a sua chapinha, foi? - Ele perguntou, como sempre, debochando de mim.
        -Ah, vai pra merda!- Eu respondi. Não tinha toalha. Merda, merda, merda!
        Eu fui me aproximando da porta, mas Davi passou na minha frente. Eu ia mandar ele pra um lugar não muito agradavel mas... O velho e conhecido turbilhão mágico de água surgiu no ar, fez um redemoinho ao redor de mim, e me transformei em tritão. Ali. Na frente do Davi.

        Eu cai no chão, morrendo de medo, com minha grande cauda preta e verde pregada no chão. Davi olhava pra mim com cara de incredulo. Ele esfregou os olhos umas duas vezes, mas a cara continuava a mesma.
        -Mas que porra é essa?! - Ele exclamou.
        -Davi, eu...
        -Você é um peixe? Uma sereia?
        -Não é nada disso, eu...
        -Caraca... Isso é a coisa mais... Eu vou ficar rico! Preciso tirar uma foto disso. - Ele falou, tirando rapidamente o celular dele de dentro do bolso.
        -NÃO! NÃO! Davi, por favor...
        -Haha... Isso é ótimo! Eu vou ficar famoso!
        Eu estava morrendo de medo. Todo esse tempo tentando guardar meu segredo...Acabou, para sempre.
        "Samuel, socorro! Socorro!!" Eu pensei, espremendo os olhos e rangendo os dentes, pedindo com toda a força da minha mente.
          Num passe de mágica, meus amigos estavam na porta da sala. Eles quatro olharam com cara de choque para aquela cena.
          -Vocês sabiam? Ah, aposto que vocês são que nem ele! Pô, eu vou lucrar tanto com...
          -Ah, cala a boca, Davi! - Samuel falou, balançando a mão no ar e fazendo Davi voar contra as cadeiras, com seu poder de telecinésia. Samu foi na minha direção, tirando um pano velho do bolso e me ajudando a me secar. Ouvimos passos do lado de fora da sala.
          -Norato! Não deixa ninguém entrar! - Samuel mandou. Norato foi até a porta e prendeu-a com sua mão, usando de sua super força para impedir a passagem até do ar. Davi se recuperou, e se levantou. Ele pegou o celular e o ergueu, pronto pra tirar outra foto, quando Guto e Raíque voaram em cima dele, querendo tirar o celular de sua mão.
          -Me dá!- Guto dizia, tentando agarrá-lo.
          -Dá logo essa porra!- Raíque dizia, mas Davi desviava e erguia o aparelho. Raíque agarrou o braço de Davi e usou seu veneno contra a pele dele, fazendo-o gritar alto e soltar o celular. Rapidamente, Guto pegou o aparelho e apertou no botão de deletar a foto.
          -Pessoal, rapido! Tá chegando gente aqui! - Norato avisou, ainda segurando a porta.
          -Rápido, Pedro! Usa o vento mágico! - Samuel falou. Eu fiz uma cara de desententido.
          -É aquele vento que aparece quando a gente assobia! Lembrou agora?!- Guto me lembrou. Fiz um "Ah!" silencioso e assobiei. Meu assobio soou alto e agudo, e um vento surgiu do nada e me circulou, secando a minha cauda na mesma hora. Quando tudo parecia estar resolvido, Davi riu do outro lado.
          -Isso não acabou não. Eu posso não ter as fotos, mas eu sei o que vi. Vou continuar tentando desmascarar vocês! Vocês não passam de aberrações da natureza! Vocês são... Demônios! Monstros! E eu vou mostrar o quanto...
           Instintivamente, ergui minha mão e soltei um raio esverdeado contra a cabeça dele. Ele deu uns tremeliques e caiu deitado no chão. Dei uma arfada.
           -Ah, meu Deus! Não, não! Eu matei o Davi! - Eu falei, levando as mãos aos cabelos. Norato se aproximou dele, e sentiu o pulso dele.
          -Calma, ele ainda tá vivo. Só tá desmaiado. - Falou. Nós cinco olhamos preocupados para ele, até que acordou. Ele olhou para nós, para as paredes e para nós de novo.
          -Tão olhando o que? Fuleros! - Ele perguntou/xingou.
          Fizemos cara de alivio e o ignoramos, indo nos sentar.

          No final da aula, nós cinco prometemos nunca mais esquecer os muiraquitãs. E... Se um dia o nosso segredo for revelado, ou tiver que ser... Que seja uma escolha sensata. E que sempre estaremos juntos.
          Sempre.
         
         

8 comentários:

  1. IRADOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Muito bom!!! =D

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  2. Pedro a partir de suas ideias estou fazendo um blog de historias de personagens que criei num site bem legal poderíamos fundir as historias num só blog ai eu faço os carinhas e invento historia e você desenha elas e fazem uma se completar com a outra e como criou um personagem pra mim em retorno vou criar um personagem tritão pra você.se gostar da ideia passe no blog é www.terradefening.blogspot.com

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  3. se quiser ver algumas das minhas criaçoes do sit que te falei entre em www.tektekcav.blogspot.com

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  4. O Pedro eu não sei desenhar eu quero seu msn pra te dar ideias que tenho não da pra ser postador se vc nunca fala!

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  5. kkk Desculpa deixar voces esperando, gente, o Norato tava me irritando aqui com os Hip Hop dele ¬¬ enfim, meu msn é pedrohamancio@hotmail.com quem quiser add...

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  6. Faz um post do perfil de Raique. Seria legal. =D

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  7. e o meu é piterdisney@hotmail.com não liguem o nome não da pra mudar

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