segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Capítulo 20: Um tritão é sequestrado.

   Naquela manhã, fui ao colégio, apesar de ser um sábado. Minha mãe acordou de mau humor, por ter de me deixar tão cedo no dia sagrado em que ela dorme até duas horas da tarde.
   É que o professor de Historia precisou de aulas extras para terminar o conteúdo, que é gigantesco. Quando cheguei, vi poucos colegas. Da minha sala haviam só pessoas que eu não falava e... A Lucia. Ah, a Lucia...
     Fui até ela, que estava no banco de gesso de costas para mim. Antes que eu a chamasse, ela se virou com um grande sorriso e me cumprimentou.
Antes que a aula começasse, ficamos um tempão conversando sobre... Tudo.
    -Tanto tempo que a gente não se fala. - Eu disse. Ela sorriu e encolheu os ombros.
    -É, eu estive meio... Ocupada. - Ela disse, com o olhar um pouco distante ao falar.
    -Problemas de família? - Perguntei.
    -É, algo assim.- Ela respondeu.
    -Ok... Cê tá entendendo o conteúdo?
   -Nadica de nada! Sério, eu não tenho nenhuma noção de história.
    -Quer que eu te ajude? Eu até que sei um pouco.  - Eu falei. É, história sempre foi uma das minhas matérias favoritas. Caramba, eu estava tendo uma chance de impressionar ela, não podia deixar falhar.
    -Em que parte você tem duvida? - Perguntei. Ela apontou pra um capítulo que começava com uma gravura representando a Revolução Francesa e a queda da Bastilha. "Xuxu Beleza" pensei. Peguei o livro dela, aproximei-me do seu ouvido, sentindo o cheiro daquele cabelo lindo cor de mel. Quando tinha terminado de explicar uma parte, olhei para ela e vi que... Ela estava me olhando também. Senti um frio na barriga misturado com um arder no peito.
     -Vem cá. - Ela disse, pegando minha mão e jogando o livro no banco. Lucia me levou até um canto reservado, atrás de uma arvore, onde nem os funcionarios do colégio poderiam nos ver. Ela ficou de frente pra mim, e percebi que seu rosto estava muito vermelho.
     -Eu... Menti sobre... Ok, não menti totalmente. Mas a verdadeira razão de eu ter faltado tanto é que... - Ela olhou pra mim, e senti-me derreter todinho. Tinha um brilho nos olhos dela, parecendo que ela estava prestes a chorar. - Eu faltei porque... Não aguentava te ver, sem querer te abraçar, te beijar. É tudo o que eu quero. Ser sua.
      Meu coração foi a mil. Se eu não tivesse posto uma mão sobre a arvore, teria caido no chão. Esse tempo todo a Lucia também gostava de mim! Eu não acreditava! Logo ela, por quem eu vivo suspirando, gosta de mim o tanto que eu gosto dela!
     Peguei a mão dela.
     -Você não tem ideia do quanto eu queria fazer isso também. Toda vez que te vejo, sinto o mundo todo ir embora... E ficamos só eu e você. Não tem ninguém com quem eu queira mais passar meu dia... Eu só penso em você.
      Dizendo isso, pus a mão na sua cintura e inclinei minha cabeça para frente. Ela fez o mesmo, e nos beijamos. Isso, nos beijamos. BEIJAMOS. BEIJO.

      Eu não queria acabar com aquilo nunca. Queria ficar ali, com ela, para sempre. Nos separamos e nos olhamos. Tudo o que eu vi foi a mais pura beleza nesse mundo e... Olhos prateados?
      Os olhos da Lucia eram cor de mel.
       Deve ter sido a luz.
       De repente, o telefone dela tocou. Ela me deu uma olhada como se pedisse desculpas. Ela pegou o aparelho, olhou quem era e enrijeceu. "Ah. não... Logo agora..." Ela pensou. Franzi o cenho, achando aquilo estranho. Ela atendeu e me virou as costas.
       -Alô?... Sim, sou eu.... Não, não posso, eu tenho... Mas...
       Com quem ela estava falando? Parecia importante. Mas, ela estava sendo pressionada.
        -O quê? Não!...  - Ela parou de falar e olhou para o portão do colégio, não muito longe dali. - Tá, tá aberto.... Mas eu não posso!...
         Então, Lucia ficou dura, como se estivesse ouvindo alguém ameaçá-la de morte. E talvez estivesse.
         -Já tá lá fora?... Tá, já vou. Tchau.
         Ela desligou e foi até o banco calada. Eu a segui, preocupado.
         -Quem era? Tá tudo bem? - Eu perguntei. Ela balançou a cabeça e me deu um sorriso falso.
         -Tá, tá, só que... Preciso ir agora. Vou ter que perder a aula. - Ela disse, pegando sua mochila e os livros no banco.
         -Mas e a sua nota? Não vai prejudicar?
         -Eu posso fazer recuperação, de boa.
         -E... O que acabou de rolar?
         Ela ia falando alguma coisa. Não consegui ler a mente dela, alguma coisa estava bloqueando-a.
         -Depois a gente se fala tá? Eu tenho que ir. Tchau. - Ela disse. Assim, ela saiu pelo portão, entrando num Sedan preto e desaparecendo na rua. Dei um suspiro.


          Depois da aula extra, que tava uma moleza, fui até os bancos. Fiquei pensando no que havia acontecido. Como a Lucia diz que gosta de mim, me beija, faz juras de amor e ainda vai embora sem falar coisa com coisa?
           Antes que eu ficasse mais deprimido, vi Samuel saindo da sala do terceiro ano. Meu coração se aliviou, me senti menos sozinho. Meu amigo loiro apareceu e se sentou ao meu lado.
           -E ai, Pedrão! O que foi? - Ele perguntou. Ele me conhecia bem,  e percebeu que algo de errado acontecera.
            -Não é nada.
            Ele me deu um olhar de "Aham. Fala logo."
            Eu dei um suspiro e...
            -Caralho! A Lucia te beijou!! - Ele exclamou, levando as mãos à boca. Ler os pensamentos é sacanagem.
            -Pô, eu ia falar...
             -HAHA!! Tô tão feliz por ti, brother! Daqui a alguns dias perde até a virgindade!
            -Ei! Olha lá, não é tão sério assim. - Eu falei. O sorriso do Samu se desfez lentamente.
            -Como assim? Explica isso.
            Falei pra ele tudo o que aconteceu, desde a parte do "...Quero ser sua " até o " ... Tenho que ir, Tchau!"
           -Nossa, que guria esquisita.- Ele falou.
           -Eu não sei... Quer dizer, eu sei, eu sinto que ela gosta de mim, mas ela se mantém muito distante. Como se ela...
           -Estivesse escondendo alguma coisa?
           -Exato! Mas não faço ideia do que seja. E se for algo do tipo...
           -AAAARGH!!
           Dei um pulo de susto. Samuel se encolheu, pondo as mãos na cabeça. Percebi pequenas fumacinhas vermelhas flutuando ao redor da cabeça dele. Olhei para trás e vi todo mundo olhando pra nós. Puxei ele cuidadosamente para fora do colégio.
           Paramos perto do estacionamento, e ele ainda estava tendo a visão. Quando finalmente voltou ao normal, ele olhou para mim apavorado.
           -O que foi, Samu? Alguma coisa...
           - O Guto...
           Senti uma pontada na barriga. Se algo tivesse acontecido com ele...
           - O que tem o Guto, Samuel?
           -Pedro, ele foi sequestrado. Por uma sirena!
           - Uma o que?
            Samuel fez sua cara de nerd impaciente com outras pessoas que não sabem o que ele sabe.
            -Uma sirena, é uma prima da sereia, só que é metade gente metade ave. Elas não são muito amigáveis, e são mais perigosas que as sereias. Eu vi uma delas amordaçando o Guto e tirando ele da água.
           -Chama o Norato e o Raíque. Vamos atrás dele.


       
     
      

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