sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Capítulo 21: Um Tritão é Sequestrado Parte 2


-Não, mãe, está tudo bem. Eu só vou almoçar na casa do Norato, posso?... Sei lá, umas quatro horas. Tá. Tá, eu sei. Ok, beijo, tchau. - Eu desliguei. Minha mãe não é aquelas caretas, mas ela anda preocupada comigo. Eu também estaria.

     -Então, estamos prontos? - Eu perguntei. Eu, Norato, Raíque e Samuel estávamos sentados no chão do quarto do Norato, no apartamento onde ele divide com o pai. Pensando nele, seu Borges apareceu, com uma jarra de suco.
     -Olá, garotos. Se metendo em muita confusão? - Ele perguntou, sorrindo. Então, ele viu Raíque e percebeu que nunca o havia visto - Ah, e você é...?
      -Foi mal, pai. Ele é o Raíque. Ele é como a gente. - Norato falou. Raíque sorriu e apertou sua mão, sem nenhum toque de timidez.
      -Seu pai é o Rafael? - Ele perguntou. Raíque arregalou os olhos.
      -É! Como o senhor...?
      -Ah, conheço seu pai. Muito bem, por sinal. Eu e eles morávamos em Manaus, lá pelas embrenhas da Amazônia, e costumavamos...
     -Seu Borges! - Eu exclamei, um tanto alto demais.- Desculpa interromper, mas é que estamos discutindo algo sério.
     -O Guto foi sequestrado. - Samuel falou. Seu Borges ficou sério e se ajoelhou ao nosso lado.
     -Oh, nossa... Vocês querem ajuda?
     -Não precisa, pai. A gente sabe se virar.
     -Meninos, pode ser perigoso...
     -A gente já enfrentou coisa pior. Eu acho... - Samuel falou. Olhei para o jarro de suco, e cutuquei Samu. Ele entendeu meu recado, e olhou para o jarro, fazendo ele levitar no ar até nós. Nós quatro tocamos ele, e esperamos visualizar o Aqua-Transporte. No mesmo momento, uma luzinha azul apareceu no suco amarelado, e a tocamos.
      -Tchau!
      Nós quatro nos despedimos rapidamente  do seu Borges, e entramos no turbilhão de bolhas e águas escuras que nos teletransportava.
     Ao abrir os olhos, vi que estávamos em frente a um grande rochedo, com um imenso buraco lá no alto. Olhei para trás e não vi nenhuma praia. Devíamos estar bem longe de Fortaleza.
    -Acho que a gente não alcança essa altura. - Raíque falou. Norato impulsionou a cauda e saltou na água. Ele quase conseguiu, mas a gravidade o venceu e ele caiu de costas.
    -Uuuhhh! - Eu e Samuel fizemos.
    -Essa doeu pra caralho... - Raíque falou. Norato estava com as costas vermelhas e os olhos girando. Literalmente. Soltei um suspiro.
    -Desse jeito não vamos chegar lá nunca. Vamos precisar da sua ajuda, Samu. - Eu falei para meu amigo loiro. Ele me olhou confuso.
    -É, você tem o poder máximo do Muiraquitã, talvez assim possa levar a gente. - Norato falou. Raíque, ao meu lado, arregalou os olhos.
    -Você tem o poder máximo do rubi?! - Ele exclamou/perguntou.
    -É, tenho... Nossa, eu juro que tinha esquecido completamente. Nunca mais usei... - Ele respondeu.
    -Então vamo! Usa ele! - Raíque falou, todo empolgado.
    Samuel suspirou, cerrou as sobrancelhas, tocou no seu Muiraquitã vermelho e...
   
    -PODER DO RUBI!!

     Na mesma hora, a cauda dele aumentou, as barbatanas ficaram enormes e fluidas, as nadadeiras de cima ficaram tão grandes e flexiveis como asas, uma armadura brilhante e novinha em folha feita de rubi cobriu o corpo dele, seus cabelos loiros cresceram num grande rabo de cavalo e... UAU! Um grande tridente feito inteiramente de rubi e de coral apareceu na mão dele!
      Quando a transformação terminou, ele olhou espantado para sua nova arma.
      -Eu nunca vi isso antes! - Ele disse, flutuando no ar, com as barbatanas batendo como se estivesse nadando no ar. Nossa, era mesmo incrivel! Parecia até aquele tridente que o Aristelin, o Príncipe do Mar e nosso amigo, possuia.
      -Isso... É... Tão... FODÁSTICO!! - Raíque exclamou.
      -EU SEEI!! - Norato exclamou, e eles dois ficaram babando a nova aparência do Samuel, como duas fãs enlouquecidas num show de rock.
      -Ok, ok, vamos parar com isso. Samu, você vai ter que puxar a gente. - Eu falei. Ele sorriu.
      -Acho que não vai ser preciso. - Ele disse. No mesmo instante, ele ergueu o tridente e a mão direita, e fez nós três flutuarmos na água. Norato se atrapalhou todo, e ficou dando cambalhotas no ar.
Samuel foi voando na nossa frente, enquanto fazia o seu tridente nos levitar com um incrível, estupendo, bombástico poder de telecinésia. Parece que ele faz uma canalização dos poderes, tornando-os mais fortes.
      Por fim, chegamos ao nosso destino. Paramos em frente ao grande buraco e vimos que lá estava uma sirena, com um longo vestido roxo, cabelos vermelhos desgrenhados e enormes asas douradas. Sem falar nos pés de águia. Assustadores. Bem na frente dela estava Guto. Ele olhou em nossa direção, e estava pronto para gritar por nós através do pano que tampava sua boca, mas eu levei meu dedo à boca, mandando ele se calar. Eu, Norato, Raíque e Samu nos escondemos atrás de uma pedra dentro do buraco, ouvindo a conversa.
      -Você parece tão... Delicioso! - A sirena disse. - Sabe, vocês são mesmo desprezíveis. Tritões...Bah! Como as garotas humanas podem se apaixonar por vocês? Por favor... Vocês são peixes!
      "E você é muito humana né, galinha D'angola!" Guto pensou. Nós quatro esprememos a boca pra não rir alto com aquele pensamento.
      -Ei! Eu ouvi isso!  - A sirena esbravejou. Guto engoliu em seco. - Eu não gosto de ser ridicularizada, golfinho. Principalmente com você.
      "Qual é o teu problema com a minha raça?" Ele perguntou. A sirena sorriu e aproximou o rosto bem colado no do dele.
      -Quer mesmo saber? - Ela perguntou. - Meu pai era um humano normal, que se casou com a filha de uma sirena que não contraiu a maldição. Eu, porém, com dezesseis anos adquiri asas. E uma linda voz que seduzia a todos. Mas tudo perdeu o sentido quando minha mãe nos deixou. Ela estava no mar, junto do barco de meu pai, na costa de uma baía na Grécia, então...
      A sirena deu uma pausa para sufocar um soluço.
      -Então um tritão apareceu. Ele seduziu minha mãe... A minha mama.... E a afogou. Depois de afogá-la, comeu sua carne. Na minha frente!
       Não pude conter. Fiquei chocado e até sentido com aquela história.
       -E sabe o que eu fiz? - Ela perguntou.
       Guto olhou para ela assustado, e fez que "não" com a cabeça.
       -Eu COMI ele também! - Ela disse, gritando na cara dele. Percebi que Norato tinha apertado a mão num punho, e estava pronto pra esmurrar alguém, mas eu e Raíque o seguramos.
       -E era delicioso! Não existe nada melhor. E... Meio que me viciei. Agora vou comer um tritão boto... Boto... Como é mesmo? Ah, Boto-Cor-de-Rosa. Deve ser uma delicia. - A sirena falou. Ela abriu um bocão enorme, mostrando uma fileira de dentes afiados e grandes.
       -Ah, eu não teria tanta certeza. - Samuel falou, erguendo a mão e fazendo a sirena voar contra a parede da caverna. Ele pegou seu tridente e fez ele desamarrar Guto sem nem tocar nele.
        -Caraca, veio! Como é que cê fez isso? E que irado esse garfo! - Guto exclamou.
        -Tridente. - Samuel corrigiu.
        Então, a sirena se levantou e soltou um grunhido enorme. Em seguida, voou até Samuel, mas ele apontou-lhe o tridente e fez ela voar de volta para a parede de onde tinha saido. Eu e os garotos pegamos Guto e estávamos prontos para ir embora, mas...
         -Gente, olha! - Norato falou. Olhamos para onde ele apontava, para o céu fora da caverna. Senti um medo indescritivel. Ao longe, vi um batalhão de asas gigantes se aproximando rapidamente. A sirena ao meu lado riu maléficamente.
         -Minha irmãs vieram me ajudar! - Ela disse, gargalhando. Samuel olhou para mim, assustado. Antes que eu mandasse todo mundo pular do rochedo, umas dez mulheres lindas (Sério, LINDAS!) apareceram na nossa frente e se postaram na porta da caverna.
          A do meio delas, uma morena de olhos verdes e asas também verdes perguntou alguma coisa em uma lingua esquisita que eu nunca ouvi na vida. Olhei para meus amigos, mas nenhum deles entendeu também. Samuel estendeu o tridente para o alto.
        -Faça-nos entender
       As palavras de grande poder!
         Assim que ele conjurou esse feitiço de tritão, um raio vermelho saiu de seu tridente e envolveu todos presentes no lugar. As sirenas ergueram as asas, desconfiadas.
         -O que fizeram conosco, criaturas?! - A sirena morena perguntou.
         -Ah, finalmente. Tava faltando a legenda! - Guto falou.
         -Não lhes causamos nada, fiz só um estabelecimento maior de contato entre nós. -Samuel falou, sério.
         -Eles pretendiam me matar, Majestade! Eles surgiram do nada com essas escamas fedorentes e garfos gigantes! - A sirena falou, se fingindo de assustada.
         -É TRIDENTE! - Samuel gritou.
         -Com todo o respeito, Majestade, mas ela está mentindo! Nós viemos até aqui buscar nosso amigo que ela sequestrou! - Eu falei. A rainha estreitou os olhos para mim, como se estivesse analisando algo em meu rosto. Talvez ela estivesse conferindo se eu estava mentindo, mas eu estava confiante. Em seguida, ela olhou para a sirena ruiva.
         -Isso é verdade? - Ela perguntou, sua voz autoritária intimidando até a mim. A sirena ruiva balbuciou algumas palavras, mas não conseguiu. A sirena rainha ergueu a mão direita, e duas sirenas fortonas voaram até a sirena ruiva e maluca, arrastando-a dali. Ela ainda gritava muito, mas não conseguiu se soltar. A rainha se virou para mim.
         -Você é o líder? - Ela perguntou.
         -Eu? Ah, não sou na...
         -É SIM! - Meus quatro amigos me interromperam, juntos. A sirena com lindos olhos de águia verde e cabelo preto como tinta de polvo se aproximou de mim.
         -Admito que minha súdita tenha tomado uma conduta um tanto... Inadequada.
         "Ah, jura?! " Guto pensou, irritado.
         -... E peço perdão pela perturbação. Mas também adiverto que essa é a ultima vez que quero vê-los em meus territórios. As sereias e as sirenas estão em guerra há várias décadas, então não provoquem meu desagrado.
         Engoli em seco com medo, mas permaneci sério e abaixei a cabeça confirmando.
         -Não iremos mais nos intrometer. Nem eu nem meus amigos jamais... Iremos...
         Não pude terminar de falar. Simplesmente não pude. Uma sirena estava parada perto da parede, olhando para nós com choque. Também fiquei chocado ao vê-la. Não somente porque era a mais linda de todas elas mas...
        Porque era a Lucia.
     

        -Texiope! - A rainha das sirenas chamou. Lucia olhou pra ela, atendendo por aquele nome. Além de roupas estranhas feitas de penas, pés de águia, asas douradas e olhos amarelos... Ela ainda tinha outro nome?
        -Estou indo, mãe. - Ela disse, lançando-me um ultimo olhar envergonhado, e abriu as asas e voou de encontro às outras. As sirenas voaram para longe. Para bem longe de nossas vistas.
       
   
     
   

 
   
    

2 comentários:

  1. Muito MANEIRO!!!!!! Muito fofo o amor de Pedro e Lucia! Ela fica muito linda de sirena! Muito bem escrito mano! =D

    ResponderExcluir
  2. um amor surgiu em lados eles estão e agora como sera logo agora q ela o beijou

    ResponderExcluir