quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Capítulo 26: Tritões e o livro mágico Parte 02

                 Novamente, a luz se dissipou, e consegui abrir os olhos. Dessa vez, eu estava numa floresta. Olhei pro lado e vi que não estava sozinho, Raíque estava caido de cara na grama bem ao meu lado. Ele se levantou lentamente e olhou pra mim e para o lugar ao nosso redor.
                 -Onde a gente tá? - Ele perguntou.
                 -Não faço ideia. Acho que... -
                 -...A gente passou pra outra história! Quem pode estar aqui? Aposto que é o Samu, aquele castelo é bem a cara dele. - Ele disse. Castelo? Segui para onde ele olhava, atrás de mim, e vi um enorme castelo meio branco e amarelado, sendo coberto pelas árvores. Parecia um desenho de livro de contos de fada! Ops, quero dizer, contos de sereia.
                  -Tive uma ideia, Pedro. - Raíque disse, me ajudando a se levantar.
                  -Opa, tô disposto a receber ideias. - Eu disse.
                  -E se a gente tentar contatar o Samuel ou seja lá quem esteja aqui por telepatia? - Ele perguntou.
                  -Boa! Vamos lá.
                  Fechamos nossos olhos e nos concentramos.
                  "Samu? Rato? Guto? Tem alguém por aqui?" eu pensei.
                  "Pedro? Raíque?" ouvi um pensamento. Estava meio distante, não conseguia distinguir quem era.
                   "Onde você tá?" Raique perguntou.
                   "Tô perto de um rio. Eu tô vendo vocês daqui, é só seguir em linha reta. "
                    Raíque e eu abrimos os olhos e corremos por entre as árvores. Avistamos um córrego que desembocava num rio, e também achamos Samuel, transformado em tritão sentado na margem. Assim como Raíque, ele tinha um colar esquisito no pescoço com o muiraquitã dele como pingente.
                    -Pô, que bom que vocês tão aqui! Eu tava ficando louco, sem conseguir falar com ninguém!- Ele disse. Eu falei do que acontecera comigo e Raíque, como aquela gata morena pegou o muiraquitã dele e fez ele ser seu escravo, e depois nós fugimos e viemos parar ali. - Nossa! Então, vocês passaram na primeira historia do livro, que era "A Esposa Sereia".
                    -Sim! Mas que história é essa? - Eu disse, apontando para o nosso redor - Com certeza você é o protagonista dela.
                    -Não faço ideia. Acho que... - Antes que Samu terminasse de falar, ouvimos barulhos esquisitos. Eram vozes de homens e passos lagos de cavalos!
                     -Tem gente vindo ai! - Raíque falou.
                     -Rápido! Eu sei onde a gente pode se esconder! - Samu falou.
                     -Não esquenta. - Raique falou, cruzando os braços e relaxando. - Eles não podem ver a gente. - Ele disse, apontado para si e para mim. Também relaxei. Observei Samu e vi que ele tocara seu muiraquitã e voltara a ser humano. Depois, pensou em se levantar, mas algo o segurou no chão. E depois, como se não pudesse controlar seu corpo, ele abriu a boca e começou a cantar.
                     "Por que tá cantando?" Perguntei.
                     "Sei lá!" Ele pensou rapidamente, voltando a cantar melodicamente. A voz dele era mesmo muito bonita, para alguma menina humana de coração mole seria dificil resistir.
                      Quando menos esperavamos, vimos algo tampar a luz do sol que vinha pelas árvores. Uma mulher, acho que uma adolescente, estava em cima de um cavalo branco nos olhando, quer dizer, olhando o Samuel de longe. Ela parecia enfeitiçada. Bom, de certo modo, ela estava.
                       Ela foi se aproximando, se aproximando, até que Samu a viu. Caraca, ela era linda! Tinha um vestido daqueles de idade média, o cabelo numa trança enorme e uma pequena coroa. Samu, assim que a viu, ficou ainda mais estranho. Se levantou e tocou no rosto dela, tentando hipnotiza-la, sem precisar. Então, eles dois se beijaram.
                      -Ok... - Foi a unica coisa que consegui dizer.
                      -Eeeeeiita! Hoje tem, hein, Samu?! - Raíque esperneou, aproveitando que a menina não podia ouvi-lo. Samuel sorriu de leve com o comentário, somente. Ele e a garota se entreolharam por um bom tempo. Parecia até aquelas cenas de romance antigo, que nem o "Coração Valente".
                      -Venha comigo... - Ela pediu. - Minha casa tem quartos quentes e uma moradia para ti.
                      -Mas... Por que está me convidando? - Samuel perguntou.
                      -Porque... Sinto... Sei que és o amor de minha vida! Constatei isso assim que ouvi vossa bela voz ecoar por toda a floresta! - A menina disse. Nossa... Que bonito. E esse romance todo me fez lembrar da Lucia. Eu bem que queria que ela tivesse dito as mesmas coisas que essa princesa de faz-de-conta disse. Se eu ouvisse pelo menos um terço dessas palavras, eu seria o cara mais feliz da face da terra.
                        -Sim... Aceito ir contigo. - Samuel disse. "Por que eu disse isso?" Ele perguntou mentalmente. - Mas, tens que prometer-me que não me visitarás no sábado à noite. -Ele falou. Wow, por que esses "tens" e "visitarás"? "Por que eu falei isso??!!" Samu gritou mentalmente, claramente sem controle de sua fala. Nós não sabiamos a resposta, então tivemos que seguir os dois, indo em direção ao grande castelo que vimos.
                        Chegamos lá, mas não pudemos entrar. Não conseguimos passar pelos portões. Então, Raíque colocou as duas mãos em concha, e lá apareceu uma gosma amarelada. Ele jogou a gosma contra a trinca do portão, fazendo ela derreter. Depois, chutou a porta e nós dois entramos no castelo. Com esforço, conseguimos encontrar o Samu, entrando num aposento e fechando a porta.
                        De repente, como acontecera da ultima vez, a luz começou a diminuir, e o sol foi embora num segundo, depois apareceu a lua, e depois o sol, numa questão de segundos, mais parecendo aquelas cenas de desenho animado.
                        -Que porra é essa? - Raíque perguntou.
                        -Não queira saber. - Eu disse. Da ultima vez que vira o que ocorrera, Raíque tinha tido uma duzia de filhos identicos a ele.
                         Não demorou muito, a lua permaneceu no céu. A porta do aposento se abriu, e Samuel saiu, com algo que parecia ser...
                         -Pff... Isso é uma camisola? AHAHAHA!! - Raíque começou a rir, e eu me juntei a ele. O Samuel tava usando uma camisola de homem, que nem faziam na Idade Média. Ficou muuuito engraçado!
                         -Ah, não enche vocês dois! Eu tenho que ir pro quarto de banho. - Samu falou. Ele foi andando pelo corredor em silêncio, pisando na ponta dos pés. Nós o seguimos, ainda rindo a plenos pulmões, ninguém podia ouvir a gente mesmo. Chegamos a um quartinho pequeno, onde deviam caber só umas dez pessoas. Bem no meio dele tinha um grande balde, onde Samuel entrou, de camisola e tudo. Não demorou muito, ele fechou os olhos e pediu pra virar tritão. O muiraquitã dele brilhou, a água deu um brilho azul, e a cauda vermelha de pirarucu dele apareceu.
                        -Tudo bem, então hoje é sabado e você tem que estar aqui toda noite? - Eu perguntei.
                        -É. Eu já me lembrei da história, se chama "Melusina". - Samuel falou.
                        -Melusina? - Perguntei, estranhando.
                        -É, ela era uma sereia que se casou com um cavaleiro muito rico e toda noite de sabado se confinava num quarto e assumia sua forma original. Muitas lendas dizem que ela não era uma sereia, que ela tinha uma cauda de serpente e asas de morcego, mas a minha teoria é que ela...
                         -...Tinha o poder máximo do muiraquitã! Por isso, as barbatanas dela pareciam asas!- Raíque completou o pensamento dele.
                         -Isso aê! - Samuel falou.
                         -Mas o que acontece no final da historia? Quer dizer, tá perto do final, né? - Perguntei.
                         -Ai é que tá. Eu não lembrou muito...
                         -Querido? Onde estás? - Ouvimos a voz da princesa do lado de fora do quarto. Fiquei nervoso. Ela iria descobrir!
                          -E agora? - Raíque me perguntou. Antes que eu dissesse que não sabia, a resposta veio. A moça abriu a porta rapidamente, e encontrou Samuel ali, na banheira com a cauda para fora. Ela ficou muda por um minuto, depois...
                           -Mas...Mas o que é isso??!! - Ela gritou.
                           -Meu bem, eu posso explicar... - Samuel falou. "Meu bem"? Nossa...
                           -Você é um demônio! Guardas! Guardas!! - Ela esperneou. Rapidamente, dois homens com lanças enormes e armaduras brilhantes entraram no aposento. Eu e Raíque ficamos perto da banheira de Samuel. Ele pareceu assustado e decepcionado.
                           -Você traiu minha confiança! - Ele gritou.
                           -Como algum dia pude confiar em uma criatura como você?! - Ela gritou. Os guardas se aproximaram dele, mas Samuel espremeu os olhos e fez eles voarem contra a parede, com o poder de telecinésia.
                            -PODER DO RUBI!! - Ele gritou, e se transformou, fazendo a água da banheira formar um redemoinho ao seu redor e depois jorrar pra tudo quanto era lado. Ele ficou flutuando, e sua esposa ficou observando-o, assustada.
                            -O que eu senti por você foi verdadeiro. Mas você nunca mais me verá novamente. Nunca mais! - Ele falou. Depois, ergueu o braço esquerdo, fazendo eu e Raíque levitar. Depois, ele bateu as barbatanas dianteiras de leve e saiu flutuando pela janela, nos levando com ele. Ainda ouvimos a princesa chamando-o.
                             -Querido! Por favor, me perdoe! Volte! Volte! - Ela gritava, mas Samuel não estava nem ai. Percebi pelo silêncio que ele realmente estava triste com aquilo.
                             -Sinto muito, velho. - Eu disse para ele. Ele apenas balançou a cabeça, sem olhar pra gente.
                              Então, a lua começou a brilhar mais, e mais, e mais, até que a sua luz nos engoliu.
   
       
                       
             
                     
                 

2 comentários:

  1. Ficou muito bom. Adorei o primeiro romance de Samuel. Muito bem feito! =D

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  2. o primeiro amor de samuel mesmo q n fosse real e eu n saber como falar no tempo presente passo do futuro como se fala qnd se vira um personagem de historia haha

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