sábado, 25 de fevereiro de 2012

Capítulo 30 - Tritões e as Amazonas Parte 02

            Depois de minutos de explicação, Samuel conseguiu nos fazer entender o que eram as Amazonas. Eram conhecidas como uma tribo de índias guerreiras da Amazônia, que deram seu nome à floresta, que possuíam um seio somente, e eram muito valentes. E, pra chocar mais ainda, elas são as criadoras dos Muiraquitãs! Mas, muitos historiadores viviam procurando por elas, sem nunca poder achá-las. Ai é que tá! Nós descobrimos o porquê! Elas, além de serem uma tribo de bravas guerreiras, são uma tribo de lindas  sereias! Por isso o muiraquitã é um amuleto tão precioso para qualquer criatura da água.
           -Calma, não temos intensão de machucar. - Samuel disse, tomando a minha frente, e tentando fazer as pazes com a amazona que nos atacou. Ela continuou com cara de brava misturada com desconfiança e falou alguma coisa numa lingua que nunca tinhamos ouvido, mas que parecia estar xingando a gente de tudo quanto era nome.
           -"Deixe as palavras estranhas se tornarem claras, que entendamos as palavras sem embaralha-las. " - Samuel falou, enfeitiçando a amazona e fazendo ela falar a nossa lingua.
          -...filhos de uma quenga querem aqui no nosso pedaço! - Ela falou.
          -Aê! Não precisa esculhambar! - Guto resmungou.
          -Oi, nós somos amigos, pode confiar. Não queremos machucar ninguém, Só queremos achar nosso amigo que entrou no território de vocês. - Eu disse.
         A amazona olhou para mim, estreitando os olhos com uma desconfiança insistente.
          -Então por que me atacou? - Ela perguntou.
          -Bom, você veio com essa lança pra cima da gente, o que eu podia fazer? - Eu disse. Ela rangeu os dentes e começou a avançar, mas Raíque tomou minha frente.
           -Espera, espera, pode confiar na gente. Nós somos como você. - Ele disse, e olhou para nós. "Vamos nos transformar." Ele pensou. Então, tocamos nossos muiraquitãs e pedimos para virar tritões. A amazona viu nossas caudas e pareceu espantada. Depois, continuou  desconfiada, mas com mais amenidade.
            -Por aqui. - Ela disse, e nos deu as costas. Depois, saiu da água e seguiu floresta adentro. Fomos atrás dela, passando por árvores caídas, troncos espinhentos e lama. Até que chegamos numa clareira banhada pela luz da lua, onde várias, e quando eu digo várias quero dizer MILHARES de índias andavam de lá pra cá só com umas tanguinhas. SÓ COM AS TANGUINHAS!
            "Isso é o paraíso..." Guto pensou, completamente besta com o que estava vendo. Concordamos plenamente. A amazona nos levou até uma cabana de palha maior do que as outras, e mandou-nos entrar.
            -Por aqui. - Ela disse. Entramos na "maloca", sei lá se é mesmo esse o nome, e demos de cara com algumas indias vestidas com umas espécies de sutiãs e saias feitas para só um seio. Nossa, olhamos de perto e vimos que todas elas possuiam apenas um seio, o outro parecia que nem havia existido!
            "É pra não atrapalhar na luta. Elas creem que assim ficam menos vulneráveis." Samuel pensou. Seguimos até o centro da maloca, onde vimos uma índia alta, com um grande cocar na cabeça. Obviamente, ela devia ser a líder.
             -A quem se designam? - Ela perguntou.
             "É o quê, mah?" Guto perguntou mentalmente.
             A índia soltou um suspiro.
             -Quem são vocês? - Ela perguntou.
             -Somos amigos, alteza, majestade, chefe... - Eu tentei, me atrapalhando todo.
             -O que desejam? - Ela perguntou, dura. Engoli em seco.
             -Viemos apenas procurar nosso amigo, que entrou em seu território. Por acaso a senhora o viu?- Perguntei. Ela olhou para cada um de nós por um momento.
             -Ele é baixinho, tem traços indígenas, cabelo escuro com mexas azuis...
             -Sim, o vimos. - Ela falou.
             Eu e meus amigos sorrimos aliviados.
             -Então, pode nos dizer aonde...
             -Não. Não posso. Ele é nosso prisioneiro.- Ela falou, com frieza.
             Senti uma queimação, um medo irracional surgindo dentro de mim.
              - O quê?! - Guto exclamou. Vi as amazonas atrás dela se movimentarem, em estado de alerta.
             -Poderia... Me dizer a razão? - Perguntei.
             -Não. - Ela respondeu. - Não é de seu respeito.
              Comecei a ficar bravo. Eu não sairia dali sem o Norato.
              "Leiam a mente dela." pedi para meus amigos. Concentrei-me na chefe, enquanto os outros liam as ondas mentais das guardas.
              "Eles não podem levá-lo. Aquele moleque vai atrapalhar o sacrificio de novo, não podemos permitir." A chefe pensou, parecendo tensa.
              -Sacrifício? Que sacrificio?! - Perguntei, agitado. A rainha ergueu as sobrancelhas e pareceu furiosa.
              -Como ousa ler a minha mente?! Peguem-nos!! - Ela ordenou.
             
                 Uma hora depois, a rainha estava nos levando para a ala de prisão, quando...
                 -Eu sei o que você teme. - Samuel falou. Olhamos para ele, e a rainha se enfureceu.
                 -Com quem pensa que está falando? Eu não temo nada! Sou rainha das amazonas! Eu não...
                 -O sacrifício é para a Cobra Grande, não é? - Samuel perguntou. Ah, não, Cobra Grande... Não gosto nem de lembrar das férias de julho, em que a Cobra grande quase que mata o pai do Norato. A rainha pareceu espantada, sem acreditar no que ouvira.
                 -Como... Como você...?
                 -O Samu é o rei das mentes. - Raíque disse.
                 -Nem pense em criar uma conta no facebook. Ele vai saber entrar. - Guto falou, nos fazendo rir.
                  A rainha tocou seu muiraquitã, que sinceramente não consegui ver do que era, e voltou a ser humana.  Samuel e Guto fizeram o mesmo, mostrando que não estavam procurando luta. Suspirei, e levantei-me do chão.
                 -Majestade, nós podemos ajudar. Já ajudamos muitas pessoas, só queremos...
                 -Não! Vocês não podem ajudar! - Ela esperneou, parecendo histérica e nervosa.
                 "Alguém tá com TPM..." Guto cantarolou mentalmente.
                 "Guto!" Repreendemos ele mentalmente.
                 -Nós conhecemos a Cobra Grande, já enfrentamos esse monstro. - Samuel falou, se levantando. Raíque pareceu confuso.
                   "Já enfrentamos?" Ele perguntou.
                   "É, foi antes de te conhecermos. " Guto respondeu.
                   "Ah tá. Legal. " Ele pensou, olhando pra baixo. Nossa, odeio quando ele se sente excluido! Ele era um de nós, claro, mas já vivemos muita coisa sem ele, e eu entendo que ele se sinta meio por fora...Mas ele é meu melhor amigo e...
                     -Ela sempre nos ataca. - A rainha falou, me tirando de meus pensamentos. -Muitas vezes, sequestramos um homem para alimentá-la, mas ela agora parece que procura... Uma noiva.
                     Ela disse. Err... Ok... Quem em sã conciencia ia ser noiva de uma cobra?
                     -Ah... Igual à lenda. - Samuel falou. É tão bom termos um gênio junto da gente. - Diziam que havia uma princesa que fora destinada à Cobra Grande, mas ela se apaixonou pela Cobra Norato, e...
                    -Norato?! Tipo, O NORATO?! - Guto perguntou alto. Reviramos os olhos.
                    -Não, besta! Existia um homem que se transformava numa serpente marinha que se chamava Norato. Por isso o NOSSO Norato tem uma cauda de serpente marinha. - Raíque respondeu.
                    -Ah, tá, então assim sim...
                    -Enfim, desde que Norato e a Princesa se casaram, a Cobra Grande permaneceu furiosa debaixo de Belém.  - Samuel falou. - Até hoje acreditam que ela está lá.
                    -Não está- A rainha falou. - Ela quer vingar seu pai e matar a alma da princesa.
                     Ficamos quietos.
                    -A alma da princesa?- Perguntei. A rainha fechou os olhos, e relaxou os ombros.
                    -Podem ler. - Ela falou. Sem hesitar, li a mente dela, vasculhando o que havia acontecido. Vi uma menina familiar, meio gordinha, sendo levada para perto do rio, completamente desacordada. Era a Camila, uma menina super inteligente da nossa sala, que o Norato era muito afim.  É isso!!
                    -A filha da Cobra Grande,  aquela que conhecemos, acha que o Norato da lenda ainda está vivo! E acha que é uma vingança se livrar da mulher que ele ama! - Eu falei. A rainha balançou a cabeça, sem acreditar.
                     -Como podem ser tão espertos? - Ela perguntou, olhando para nós.
                     -Por isso que o Rato veio pra cá. Pra resgatar a Camila de ser  comida pela cobra. - Raíque contestou.
                     -Nossa, que romântico, agora só falta a pipoca e o balde pra eu vomitar... - Guto resmungou.
                     -Majestade, nos mostre nosso amigo, podemos ajudar, eu prometo. - Eu disse, avançando.
                      Olhei para a rainha por um bom tempo. Vi que apesar de ser uma mulher forte,  ela estava temerosa pela sua tribo.
                     -Você é uma pessoa boa. Vejo bondade e lealdade em você. Soltarei seu amigo. - Ela disse, e ergueu uma mão, fazendo um barulho estranho de madeira caindo atrás dela. Um minuto depois, nosso indiozinho favorito saiu correndo da parte escura da maloca e veio nos abraçar. Abraçamos ele, aliviados por vê-lo ali.
                     -O que vocês vão fazer? - A chefe perguntou. - Ela é muito poderosa.
                     -Vocês têm que soltar a Camila! Não vou deixar ela virar jantar de ninguém! - Norato disse, parecendo inquieto e "pê" da vida. Eu segurei seus ombros e o acalmei.
                     -Não vamos resolver nada assim, calma. Eu tenho um plano.


                     Mais tarde, quando a lua cheia estava no alto, ficamos à espreita. Estavamos perto daonde Camila estava amarrada, prontos para atacar quando a cobra grande aparecesse. Norato não desgrudava os olhos de Camila, que continuava dormindo, amarrada num pedaço de madeira na margem do rio.
                     -Eu...Sempre quis que ela me notasse. Sempre ajudo ela nuns trabalhos da escola, sempre tento tirar notas boas pra mostrar a ela que sou inteligente. Mas nada dava certo. Ela me achava irritante.
                    Ouvi a ele. Eu sei bem como ele se sente. Não ser o bom bastante para alguém que você gosta muito.
                    -...Mas ainda gosto dela. Não quero que ela morra, não posso deixar. Apesar de ela não gostar de mim como eu quero, talvez se eu salvar a vida dela ela mude de conceito. - Norato falou. Depois, baixou a cabeça. - Tu tá me achando um emo idiota, né?
                   -Não, veio. Não mesmo. - Eu disse, sorrindo para ele.
                    "Aê, galera! Faz silêncio!" Samuel pensou. Olhamos para a água e vimos a Cobra Grande aparecendo. Ela parecia muito mais assustadora de noite, era um verdadeiro monstro!
                    "É melhor tomar cuidado. Ela pode acabar..." Antes que eu terminasse meu pensamento, Norato correu para longe.
                     -NORATO!! NÃÃO!! - Eu gritei, mas ele ignorou. Ele correu até a Camila pronto para soltá-la. A Cobra Grande o viu e soltou um rugido tão alto e feroz que faria um leão se tremer todo. Ela foi abocanhá-lo, mas eu fui rápido e soltei um raio em direção a ela. A cobra estreitou os olhos para nós, e saiu da água.        
                      -Foge! Foge!! - Eu gritei. Guto e Raíque correram pela esquerda e eu e Samu pela direita. A Cobra foi se esgueirando atrás de mim, quebrando as árvores por onde  seu enorme corpo passava.
                      "Mergulha, rápido!" Samuel falou, transformando-se e voando para o alto e eu mergulhando na água escura. A cobra me seguiu, causando uma inundação. Senti muito medo, ela iria com certeza me abocanhar! Soltei outro raio e ela desviou, erguendo a bocona. Soltei uma bola elétrica na boca dela, fazendo-a recuar e cair de costas na areia do rio. Sai da água e vi Norato junto de Camila.
                     -Vamos sair daqui! Rápido! Rápido! - Eu gritei, desesperado. Então, Camila começou a se mover lentamente, e vi que seus olhos estavam brancos. Ela estava hipnotizada.
                     -Camila! Volta aqui! Cami... - Norato gritou, mas um rabo de cobra gigante saiu da água e o derrubou. Nadei rapidamente até meu amigo, que se recuperou logo.
                     "Venha... Venha comigo..." A Cobra sibilava. Camila andava contra a propria vontade, como um zumbi.
                      -Nãão!! Camila!!! - Norato gritou.
                      "Venha para a sua morte..." a Cobra abriu a boca, que mais parecia um buraco negro, pronto pra engolir a garota que Norato tanto gostava.
                      -Amazonas! Atacar!!- Ouvimos a voz da rainha. Então, milhares de sereias voadoras sairam da água e começaram a atacar a Cobra Grande com rajadas de raios mágicos. A Cobra grande urrava de dor, mas mais parecendo uma onça incomodada com moscas.
                      -Tome. Você merece isso. - A rainha disse, e entregou algo escuro para Norato. - Perdoe-nos pelo que ocorreu mais cedo.
                      -Muito obrigado! - Norato disse, sorrindo como sempre. Depois, passou a massa escura no seu muiraquitã de serpente, que começou a brilhar com vigor. Depois, ergueu-o para o alto e gritou:
                   
                        -PODER DA ÁGUA MARINHA!!    

                        O turbilhão mágico de água o circulou, uma luz ofuscante surgiu do muiraquitã, e Norato adquiriu o poder máximo.   A cauda dele esta enorme, com as barbatanas gigantescas, parecendo asas! O cabelo estava cor azul marinho, e tinha luvas duras com pedras de água marinha, próprias para dar socos.
                         -Vem cá, minhoca, Vamos ver se você aguenta essa! - Norato falou, voando até a Cobra e dando-lhe um soco no maxilar. A força dele já era sobrenatural antes, agora ele conseguia bater numa Cobra que deve pesar mais que uma cidade!
                          A Cobra rugiu, e Norato deu um chute nela com a cauda, e agarrou-a pela pele. Ergueu-a no ar, e depois jogou-a com tudo de cabeça na margem. A Cobra não respirava mais. Norato agarrou-a pela cauda e deixou seu corpo afundar no rio.
                       
                        Depois de todo aquele alvoroço, a rainha nos agradeceu, ordenando que todas as amazonas, inclusive ela mesma, se ajoelhassem perante nós. Depois, nos levaram até o lago que ligava o mundo delas ao dos humanos, e se despediram de nós, com carinho.
                         No final de semana, estavamos reunidos na casa do Norato enquanto ele conversava com a Camila pelo telefone.
                         -O que ela disse? - Perguntei, assim que ele desligou.
                         -"Ai, gato, tô sozinha aqui em casa, quer tomar um drink no meu quarto?" -Raíque fez voz de mulher e nós todos rimos.
                          -Não,não, só quer sair comigo amanhã.- Ele respondeu.
                          Todos nós fizemos "Hmmmmmmmmm....."
                           -Que foi?
                           -O RATO DESENCALHOOOOU!! - Nós quatro exclamamos e jogamos travesseiros do sofá na cara dele, e começamos uma pequena guerra.
                            -Epa, que bagunça é essa? - Tio Borges, o pai do Norato, perguntou quando chegou do super mercado. Nós paramos com a bagunça,  e Norato sorriu e ficou em pé postado de frente para o pai.
                           -Pai, cê lembra que antes de ontem eu não quis falar contigo sobre o que aconteceu por eu ter demorado tanto? - Ele perguntou, estranhamente animado.
                           -Ah, claro. E ainda quero saber, senhor Norato. O que houve?- Ele perguntou.
                           -Eu queria que a galera tivesse aqui pra que você visse. Agora vai. - Norato respirou fundo e se concentrou. - Aconteceu isso, pai: MUIRAQUITÃ, MÁXIMO!!
                       
                             Então ele se transformou em tritão máximo na frente dele. Nunca tinha visto o Tio Borges tão chocado na vida. Ele quase caiu de joelhos.
                             -Meu filho... Mas... Meu garoto..! - Ele disse, correndo até Norato e o abraçando. - Você é completo agora. Como eu queria... - Tio Borges se calou, se segurando pra não chorar - Como eu queria que sua mãe te visse assim.
                             Norato abraçou seu pai.
                              Nossa, que cena tocante. Ouvi um barulho estranho. Olhei pro lado e vi Guto coçando os olhos.
                              -Tá chorando, Guto? - Perguntei.
                             -Porra de chorando! Só caiu... Snif... Um cisco no meu olho. - Ele disse, fungando. Raíque riu e o abraçou, sacudindo seu cabelo.
                           
                                 Me pergunto se um dia minha mãe ficará tão orgulhosa assim... Se um dia ela descobrir... Ah, não sei. Isso é outra história.
                             
             
     
                

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