sexta-feira, 21 de maio de 2010

Capítulo 2- Um Tritão tem Poderes


Logo depois de eu virar um garoto-peixe ou coisa do tipo, coisas ainda mais bizarras aconteceram comigo. Pra começar, eu consigo ler a mente de todo mundo. Isso mesmo. TODO MUNDO. Imagina: na hora do almoço, eu tentava comer meu macarrão sossegadamente, mas os blábláblás mentais de minha mãe e de meu irmão não me deixavam em paz. Tiveram também coisas piores. Começando:
Era meu primeiro dia na escola. Tinham muitos novatos, e poucas pessoas que eu conhecia do ano passado continuaram na mesma sala que eu. Bom, nunca fui de ter vários amigos, então dá na mesma. Eu vi uma garota novata muito linda. Ela era magra, alta, cabelos cor de mel com uma franja repartida ao meio. Seu nome era Lúcia, e ela vinha de uma outra cidade (não me pergunte qual). E pro meu desasossego, o Davi continuava na escola. Ele, o típico playboyzinho que se acha a última Coca-Cola no deserto do Saara, veio logo encher meu saco.
-Olha só... o Nerd da turma continua por aqui! - Ele disse, rindo junto de seus macacos seguidores. -E aí Pedrita, continua a bichinha de sempre ou resolveu virar macho?
Já não aguentando, ergui-me da cadeira e o encarei. Jesus, o cara ainda não mudou a mania de passar luzes no cabelo... E que boné era aquele?
-Davi, você deve ser mesmo um cara muito inseguro. Porque, tipo, falar mal dos outros sem nenhum motivo aparente é um belo sinal de problemas psicológicos e de imaturidade grave. - Eu disse. O sorriso de Davi sumiu completamente. Ele foi se aproximando de mim, quando...
"Fala mais alguma coisa que eu trituro você!" eu avisei mentalmente. Davi arregalou os olhos, como se tivesse ouvido meus pensamentos ferozes. Ele saiu trotando com seus amigos. Passei a língua nos dentes e os senti afiados e multiplos. Isso, eu tinha ficado com dentes de tubarão.
Quando anoiteceu, resolvi nadar um pouco na minha piscina. Minha mãe estava assistindo TV às alturas, então não iria escutar nem o fim do mundo. Mesmo assim, mergulhei com todo o cuidado. Quando pus meu corpo dentro da água, uma luz azulada cobriu meu corpo, fazendo-a brilhar só com a minha presença. Fiquei nadando de um lado para o outro na piscina, observando as estrelas no céu. De repente, o Ricardo abriu a porta dos fundos e veio correndo até a piscina. Assustado, mergulhei . Droga, o que aquele moleque queria ali naquela hora?
-Ooi! Tem algum monstro aqui?- Ele perguntou com sua voz de bebê.
Fiquei paralisado debaixo d'água. A água estava iluminada e ele poderia me ver perfeitamente. Senti tanto pavor naquela hora que soltei tinta pelas mãos. Peraê! Tinta pelas mãos? Olhei pra minhas mãos, e vi nelas uns pontinhos estranhos, como se fossem mini-bocas. Delas sairam tinta preta, que foi se espalhando na água azul, como um polvo.
De repente, tive uma ideia. Elevei minha cabeça a superfície e olhei pro meu irmãozinho com um olhar carrancudo, tentando causar-lhe medo. Ele gritou, fazendo a maior zuada. Então, ergui a mão e pensei:
"Você não está realmente aqui. Isso é só um sonho. Volte pra cama e durma. Agora!"
Ele deixou a boca semi aberta e deu meia volta, andando duro como um zumbi. Depois dessa, resolvi me secar rapidamente.
No dia seguinte, fui pro shopping com minha familia. O Ricardo queria assistir um filminho ai, não lembro o nome. Enquanto ele e a mãe foram ao cinema, eu fiquei perto das lanchonetes, vendo uma loja de variedades. Acho muito legal, tem todo tipo de coisas lá. Quando saí da loja, vi uns moleques com aquelas pistolas enormes jorrando água em todo mundo. Para o meu azar, um deles disparou em mim. Sai correndo e entrei no banheiro masculino. Me enfiei dentro de um box, e vi minha cauda de peixe aparecer. Ainda bem que tinham poucos caras lá dentro, e nenhum foi espiar pela abertura dos boxes. Fiquei com tanta raiva daqueles guris, que dei um murro na parede. No mesmo instante, vi umas faíscas saindo da minha mão, como se fossem pequenos raios. Eles correram em zigue-zague até a lâmpada do banheiro, fazendo-a papocar. Ouvi vários homens reclamando e palavrões. Apressei-me em enxugar minha cauda com o papel higiênico e depois corri até o andar dos cinemas.
E essas foram minha novas descobertas. Às vezes penso que tudo não passa de um sonho. Mas sei que muito ainda está por vir...

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