sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Capitulo 10 - Tritões tiram férias Parte 1


Ah, finalmente férias. Bem que a gente precisava, né?
Logo no final da aula, meu celular tocou. A chamada vinha de um número desconhecido, mas resolvi atender. Quando apertei o botão verde e levei o celular à orelha...
-É FÉÉÉÉÉÉÉRIAS MERMÃÃÃÃO!!
Os meus três amigos gritaram juntos. E claro que o Guto cobriu todos com seu vozeirão. Recuperado o susto, voltou a ouvi-los.
-Que é que foi? – Perguntei, ainda sentindo os tímpanos latejarem.
-Ah, Pedro! O meu pai convidou vocês pra irem viajar com a gente! – Norato falou com animação. Gostei da noticia, e fiquei animado também.
-Sério? E pra onde vamos? – Perguntei.
-Ah, véi, quem que liga? O importante é sair um pouco daqui, né? Esquecer dessa vidinha de estudante. – Guto falou na outra linha.
-É, por incrível que pareça, concordo com o Guto. – Samuel falou. – Mas bicho, a gente tava planejando ir ou pra Manaus ou São Paulo.
-Que mané São Paulo, man! A gente vai é pra Manaus, São Paulo não tem nada haver com a gente! – Guto falou.
-Quer dizer do modo peixesco?- Norato perguntou, rindo.
-Não, do lado tritão mesmo. – Guto falou. Eu já estava vendo o quão produtiva estava sendo aquela conversa, então, resolvi:
-Vamos fazer votação. Quem quer Manaus?
-Eu! – Todos disseram ao mesmo tempo. Comecei a rir.
-Então pronto! Vou falar pra mãe ver o que ela acha. Falou, pessoal.
-Falou, guri! – Samu falou.
-Té mais, Pedrão! – Rato disse.
-Vai tomar banho! – Guto sussurrou.
-Eu ouvi essa! – Falei. Eles ainda estavam rindo quando desliguei o telefone.
Dois dias depois, nós nos reunimos na casa do Norato. O pai dele ficou enrolando, ainda terminando com as malas, enquanto ficamos jogando na sala. Por fim, ele levou a bagagem para o carro e partimos, Norato na frente junto do pai, e Guto,eu e Samuel no banco de trás. Quando chegamos ao limite de Fortaleza, percebi uma coisa.
-Ei, tio... A gente vai de carro até Manaus? – Perguntei ao pai de Norato.
-Caramba, só agora que notou isso? – Samuel perguntou, rindo.
-Haha, não esquente, Pedro. Temos nossos truques. Quando chegarmos no Eusébio, vamos pegar um atalho. – Ele falou, olhando sorridente para Norato. Os outros também riram, e só eu fiquei boiando. Quando passamos próximo à praia do Eusébio, o Tio Borges (chamamos o pai do Norato assim) saiu da estrada e foi até a praia. O carro corria com velocidade pela areia, deixando um grande rastro atrás.
-É isso ai rapazes, se segurem! –Tio Borges exclamou. Samuel colocou o cinto e Guto segurou-se na alça em cima da porta do carro. Todos faziam “UUUHUUU!!” enquanto eu estava um pouco tenso.
Meu desespero cresceu ainda mais quando o carro começou a ir em direção ao mar. Cravei as unhas na parte de baixo do banco e esbugalhei os olhos.
-O senhor sabe o que tá fazendo, tio? – Minha voz não era nada mais que um sussurro, mas ele ouviu perfeitamente.
-Sei muito bem Pedrão! É agora pessoal! – Ele exclamou, acelerando o carro ainda mais. Nós quatro fomos pressionados pela velocidade, e nossas cabeças foram para trás inevitavelmente. Os outros pareciam estar se divertindo com aquilo, mas... A gente ia cair no mar!
Quando a água começou a voar ao nosso redor, todos fizeram “UHUUUU!!’ enquanto eu gritava que nem uma garotinha. Espremi os olhos, pronto pra ver todos nós afundados, quando o pensamento de Guto me assustou.
“Ae, assustadinho! Olha só isso!”
Abri os olhos e vi Tio Borges dirigindo calmamente... Debaixo d’água. Os vidros estavam fechados, o motor não roncava e estávamos flutuando no fundo do mar. Ser tritão é demais.
Os peixes passavam rápidos por nós, as anêmonas e algas balançavam incessantemente. Samuel e eu olhamos pela janela esquerda. Era como nadar no mar só que sem a cauda. Sorri aliviado, pensando o quanto fui idiota.
A viagem não foi tão longa assim. Umas duas horas aproximadamente. Então, percebi que as águas perderam o tom azulado e foram ficando mais esverdeadas. As algas pareciam arbustos e os peixes eram mais compridos.
-Meninos, chegamos ao Rio Amazonas.
-Uau... – Norato falou, olhando para o fundo do rio. Ficamos alguns minutos em silencio até que sentimos um solavanco no carro. Guto, Samuel e eu fomos para frente, sendo protegidos pelos cintos de segurança.
-Caralho! Que é que foi isso? – Guto perguntou.
Samuel olhou para trás e apontou com o dedo trêmulo.
-Acho que foi aquilo!
Uma cobra enorme estava nadando sobre o carro, sua cauda batendo “de leve” no capô. Ela mudou de direção e veio para o lado esquerdo. Ela olhou diretamente para nós, dando um frio na minha espinha.
“Cês sentiram isso?” Perguntei mentalmente.
“Senti.” Samu admitiu. Então, a serpente deu mais uma remada, e o carro balançou para o lado, quase capotando sobre a areia.
-Essa não... – Tio Borges lamentou, nos deixando assustados.
-O que foi, pai? – Norato perguntou.
-Essa é a Cobra Grande! Ela não gosta muito de estranhos. Se não sairmos da água rápido, ela pode...
Quando ele ia terminar a frase, o carro deu outro balanço e um rodopio na água.
Estávamos apavorados. A serpente não tinha gostado muito da nossa visita.

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