sexta-feira, 8 de abril de 2011

Capítulo 11 - Um Tritão e as Lulas


Era uma manhã de segunda. Acordei depois de um sono longo e bem dormido e olhei pro relógio. "Droga! A escola!" Pensei. Mais que depressa, pulei da cama, passei a escova nos dentes, vesti a primeira coisa que vi e sai correndo pra sala. "Porra, a bolsa! " Pensei, voltando para meu quarto, escorregando no caminho e pegando a bolsa preta e surrada deixada dentro do armário.

-Já tô indo, mãe!-Gritei, abrindo a porta da frente e correndo pelas escadas.

-Pedroo!! - Minha mãe chamou por mim. Voltei, contando os minutos de atraso. Minha gatíssima mãe apareceu no alto da escada, junto do meu irmãozinho Ricardo, com cara de espantada. Ela estava de roupão, e com uma caneca de café na mão. Ricardinho coçava os olhos, com sono.

-Onde pensa que tá indo a essa hora da manhã? - Minha mãe perguntou.

-Ué, pra escola! Cara, eu tô atrasado, tenho que ir. - Disse, começando a correr.

-Tá ficando doido, moleque? Tu tá de férias. - Minha mãe gritou. Ricardo começou a rir alto. Parei no degrau e olhei pra trás, constrangido.

-Tinha esquecido...

-Saia correndo desse jeito de novo e prendo seus pés no pé da cama. - Ela ameaçou. Ricardinho pulou na minha frente e me mostrou sua língua.

-Idiotaaa!! - Ele zombou. Fiz uma careta pra ele e ameacei dar um tapa naquela peste. Voltei pro meu quarto e desabei na cama. Mas, já que estava acordado, resolvi dar uma checada no meu Orkut. Isso antes de eu ouvir uma voz conhecida no meu banheiro.

-Ô Pedro! -Norato sussurrou. Dei um pulo de susto e vi meu amigo índio com roupas de rapper bem ali, na porta do meu banheiro suíte.

-Porra, que susto! - Eu disse, com a mão no peito. - Que é que tu tá fazendo aqui?

-Véi, eu preciso da tua ajuda! - Norato falou.

-Shh!! Fala baixo, a mãe vai achar muito esquisito você por aqui. Aliás, como é que cê chegou aqui?- Perguntei. -Pelo Acquatransporte. Aliás, cê devia fechar a torneira depois de usar, sabe? Como tritão é meio que seu dever preservar a água! - Ele me deu bronca.

-Ah, tá bom. Me diz o que tá rolando, ou minha mãe ou o Ricardo vão vir aqui e te ver. -Vixe... Não pode ser aqui. Eu vô nessa. Me encontra lá embaixo num minuto.- Mal ele falou, vi um brilho azul vindo da pia. Norato me deu um "Falou!" e mergulhou na pia - literalmente- e desapareceu na luz azul. Uma hora depois, Norato e eu estávamos na beira mar. Não tinham tantas pessoas, e aproveitamos para mergulhar.

Nadamos até perto de um recife, onde estava uma família de Lulas Gigantes, todas enormes, do tamanho de uma casa, presas numa rede de pesca.

"Precisamos tirá-las daí. " Norato pensou, preocupado. Uma das lulas, a menor de todas, olhou para nós com seus tristes olhões, implorando para que as tirassemos de lá. Ah, assim meu coração não aguenta, né veio?

"Hmm... Já sei. Vamos tentar cortar a rede." Eu pensei. "Eu não consegui. Ela tem um... Sensor, sei lá. Lá embaixo. Se elas fizerem algum movimento brusco, o sensor libera choques elétricos. " Norato pensou. Nadamos até embaixo das lulas e vimos o sensor. Parecia mais uma pequena bomba, só que sem os numeros em ordem regressiva.

"Então isso não é uma rede de pesca. É uma armadilha. Alguém queria mesmo pegá-las." Pensei. Então, ouvi um pensamentozinho vindo de perto de nós.

"Atrás de vocês! " A "vozinha mental" da lulinha soou nas nossas mentes. Olhamos para trás e vimos a parte de baixo de um barco ao longe e três mergulhadores mascarados nadando em nossa direção. Norato e eu nos escondemos atrás de um coral. As lulas soltaram sons que mais pareciam choros de medo. Os mergulhadores se aproximavam. Eu não podia deixar que eles fizessem mal a elas. Então, tive uma ideia. Vi o sensor ao longe, apontei para ele, e um raio esverdeado zuiniu até ele, fazendo-o explodir na hora. As lulas foram sacudidas, e a rede não as eletrocutou. Os mergulhadores se assustaram e pararam de nadar.

"Norato, solta elas! " pensei. Ele nadou veloz até as lulas e rasgou a rede grossa com uma facilidade impressionante. Os mergulhadores avistaram as lulas fugindo e voltaram a nadar. Então, ergui a palma das minhas mãos e soltei tinta preta de polvo. Os mergulhadores ficaram na escuridão, enquanto soltavamos as lulas. Antes da tinta de polvo ter se dissipado, tinhamos ido embora.



No meu sonho, a Lucia estava correndo em minha direção com um vestidinho branco e os cabelos cor de mel soltos ao vendo da praia. Eu ia alcançando-a, quando ela falou

-Diz Ae, Pedrão! -


Abri os olhos, e vi Norato ali, na minha frente. Só não dei um murro nele porque estava sonolento demais para isso.

-Que é que foi? - Perguntei, ainda meio grogue.

-Bora dar uma nadadinha? - Ele me convidou. -Não dá, eu ainda tenho que...

-Ah, não esquenta, eu espero. - Ele disse, me puxando da cama. Depois de ter escovado os dentes, me banhado e posto os óculos, fomos à beira mar. Já debaixo d'água, vimos as Lulas Gigantes ao longe. A lulinha filhote veio rapidamente até nós, e nos comprimentou com um "abraço" com seus tentáculos. Sorrindo, fomos nadar junto delas, na imensidão azul e misteriosa do mar.

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