quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capítulo 22 - Um Tritão se decepciona.

           Era segunda, e Lucia havia faltado. Passei o resto do dia de mau humor e cabisbaixo. Eu sei que isso é meio emo, mas pô... A mina que eu gosto(e pra caraca) mentiu esse tempo todo pra mim, escondeu de mim a verdadeira identidade dela, e nem confiou em mim pra guardar o segredo?
          Mas então, pensei: Foi exatamente isso o que eu fiz, esse tempo todo! Eu nunca falei pra Lucia que eu era um tritão. Nunca achei que precisaria, já que eu tinha o meu Muiraquitã, que impedia que eu me transformasse ao entrar em contato com a água. Era isso! Eu iria falar pra Lucia que não me importava por ela ter mentido, já que eu fiz o mesmo. Comecei a sorrir do nada, e meus amigos estranharam.
         Na terça, ela finalmente veio.
         Ela sentou em seu lugar usual, perto da Teresa, do outro lado da sala. Eu, perto da janela, me ergui na cadeira e mandei um "oi" pra ela. Ela simplesmente sorriu e olhou para a frente. Bom, se é que aquilo pode ser chamado de sorriso, na verdade não passou de um movimento da boca. Sentei-me na carteira e tentei prestar atenção na aula. Tentei.
         No recreio, fui atrás dela.
         -Lucia! - Eu a vi conversando com algumas meninas. Ela disse para elas que falaria depois e foi ao meu encontro. Pude ver que ela não queria isso. Ela ainda estava com vergonha, medo, todos esses sentimentos confusos em relação ao fato de eu ter visto quem ela realmente é. Uma sirena.
         -Eu... Queria falar contigo sobre...
         -Não precisa dizer. Eu sei do que você tá falando. - Ela me cortou.
         -Então, eu só queria dizer que... Pra ser honesto, eu... É que... - Eu não conseguia falar. Merda, por que eu não conseguia falar o que sentia?
         - Você está bravo comigo? - Ela perguntou, com aquele rostinho lindo, impossível de odiar.
         -O quê? Não, não, claro que não. Bom, foi um choque tremendo, eu nunca poderia imaginar que você fosse uma...
          -...Sirena?
          -É. - O nome da criatura que ela era soou mágico, doce, e ao mesmo tempo arrepiante da boca dela.
          -Eu também nunca tinha sonhado que você fosse um...
          -...Tritão? -Eu completei sorrindo.
          -Isso. - Ela não sorriu. - E até fiquei um pouco chateada, mas entendi os seus motivos.
          Ficamos um pouco em silêncio, os dois tentando formular as palavras.
          -Mas, como é que fica isso que tá rolando ou... Que rolou entre você e eu? - Eu perguntei, começando a ficar nervoso. Ela olhou para o chão, não sabendo como poderia dizer aquilo.
          "Não posso... Nunca vão permitir. E não parece certo..."
          Ela realmente pensou aquilo?
          -O que aconteceu entre nós... Foi momentâneo.
         O que? Ela não tinha reparado a bomba que havia jogado sobre mim?
         -Mas...
         -Não, Pedro... Por favor. Isso não vai funcionar. Sinto muito. - Ela disse. Eu não podia aceitar aquilo. Ela sentia o mesmo por mim, tinha que sentir, eu sabia que sentia! Agarrei o braço dela, pedindo pra ficar ali. Porém, ela virou o rosto para mim e vi uma Lucia completamente diferente. Ela me olhou com fúria, as sobrancelhas arqueadas, os olhos amarelados e parecidos com olhos da águia, ferozes e impiedosos. Senti que ela queria mesmo que eu sentisse medo. Soltei seu braço, libertando-a. Ela foi embora, e eu fiquei ali, no corredor vazio.

        Mais tarde, Raíque me ligou, enquanto tentava estudar biologia.
        -E aê, Pedrão! Quer sair hoje? - Ele perguntou.
        -Não dá, tô com matéria atrasada. Se eu vacilar, perco a nota. - Respondi, seco.
         - Ah, vai, o Samu te ajuda se precisar. Só hoje à noite, vamo' lá!
        -Não dá, Raíque, sério... Vão vocês quatro. Eu fico bem.
        Ouvi meu amigo de infância suspirar do outro lado do telefone.
         -Pedro, você não vai ficar bem. A gente viu você e a Lucia hoje. - Ele falou, sem nenhum ânimo.
         -Então cês viram também a minha cara de rejeitado. - Falei.
         -Ah, não fala assim, veio... Ela teve motivo.
          -Eu sei, eu entendo isso, mas... Sabe quanto tempo gastei pensando nela? Quantas noites fiquei sem dormir, imaginando ela comigo, e...
          -Caramba, Pedro! Passou a noite toda fazendo isso?!
          -Isso o que?
          -Isso, imaginando vocês dois... Ali... No bom e bom... Sabe... Explorando...
          Nossa, que nojo!
          -NÃO! Que merda, Raí! Eu não faço isso!
          -Aham... - Ele fez, como quem duvida. Até parece que eu me... Ah, esquece.
         -Mas de qualquer modo, eu não posso sair. Tenho muita depressão pra sofrer, ok? Tchau.
         -Ah não, agora chega. - Raíque falou, e ouvi um chiado do outro lado da linha, um barulho parecida com água, um monte de água derramando. Não deu nem tempo de eu por o telefone no lugar, Raíque saiu da pia do meu banheiro, usando Aquatransporte.
          -Tu tá doido?!! Minha mãe não pode te ver aqui!- Eu repreendi ele.
          -E quem disse que ela vai ver? Cê vai vir comigo. - Ele disse agarrando meu braço. Tentei lutar, mas ser jogador de futebol, jogador de basquete, corredor, e um tritão com poderes mágicos deixavam grandes vantagens para ele.

            Uns minutos depois, lá estava eu junto de meus quatro amigos, andando pela Beira Mar. Ainda era cedo, então não haviam muitos bandidos, prostitutas, travestis, bêbados, nem turistas esquisitões por ali.
           -Tem um barzinho de karaokê, por aqui. Eu sempre via aqui todo final de semana. - Norato falou, apontando para a calçada por onde passávamos.
           -Espera, você cantava num karaokê? - Eu perguntei.
           -Não, Pedro! Ele fazia Streap-Tease! Pense numa sedução! - Guto falou todo sárcastico, fazendo todos rirem, menos eu.
             - O que eu tô querendo dizer, santa ignorância, é como é que ele ia cantar sem enfeitiçar ninguém? - Perguntei.
             -Ah, eu enfeitiçava. Até porque, minha voz é incrivel. - Norato falou. Ele não estava se gabando, apenas dizendo a verdade. Nossas vozes eram sobrenaturais de tão bonitas. Conseguimos impedir um assalto a uma loja apenas cantando!
              - Acho que é aqui, a fachada tá meio diferente. - Norato falou, e nós cinco entramos num pequeno bar com um grande palco no fim. Haviam duas meninas cantando um axé bem legalzinho. A mais alta era bem afinada, mas a baixinha fazia um som de trator parecer uma melodia. Depois que elas acabaram, Raíque me empurrou pra fora da mesa onde estávamos.
              -Vamos, Pedro! Vai cantar ! Ele falou.
              -Não posso! Não quero enfeitiçar ninguém. - Falei.
              -Deixa de besteira, se algo acontecer a gente sai correndo. - Samuel falou, logo ele, a voz da razão.
              -Você vai se sentir melhor. Vai lá. - Norato falou.
              Fiquei calado, olhando para o palco e para meus amigos. Eles estavam certos. Uma musiquinha não faria mal. Pedi para o DJ de lá deixar eu subir, e ele me indicou os degraus. Peguei o microfone e olhei umas poucas pessoas olhando para mim, com cara de tédio, e meus amigos gritando bem alto, me apoiando. Pô, o Samuel pegou uma máquina fotográfica e começou a me filmar! Ai dele se botar no Youtube.
            Então, quando já comecei a ficar nervoso, começou a tocar um toque de piano de uma musica que gosto muito, It Will Rain do Bruno Mars. A letra começou a rolar num telão atrás de mim, mas nem olhei. Eu sabia muito bem.
            -Pô, cantar musica de Crepúsculo é foda viu, véio... - Guto falou, balançando a cabeça.
            -Verdade... E ele conhece! O Pedro gosta daquela joça? - Raíque perguntou.
            -Ah, até que é legal! Tirano o fato de os vampiros terem purpurina na pele, os lobos são irados! - Norato falou, empolgado.
            -O Pedro não é muito fã, mas ele gosta do Bruno Mars. Deve ser bom pra ele cantar essa música. - Samuel falou, sorrindo para mim.
             Fui cantando a música, deixando ela fluir de dentro de mim.
             Quando eu era humano, eu sempre desafinava, a voz "desengrossava", mas agora não. Ela era limpa, grossa e alta, tendo até um eco mágico. Foi bom cantá-la, eu conseguia expressar tudo o que sentia pela Lucia, e o que queria falar a ela.



OBS: (A voz de Pedro cantando essa música parece com essa voz.)


         Enquanto eu cantava o refrão, vi... Ela apareceu.
         Lucia estava ali, na porta, olhando para mim com cara de boba.

         Continuei a cantar, olhando para ela e dizendo através da música tudo o que sentia.

         Quando acabei, levei um susto.
          Por estar muito focado na Lucia, não percebi que quase todo mundo que andava na calçada tinha entrado no bar somente pra me ouvir de perto. Todos aplaudiram com fervor a minha apresentação. Meus amigos subiram no palco e me abraçaram. Eu fiz uma reverência, agradecendo pelo carinho. Até que vi a unica pessoal que realmente queria que me ouvisse sair correndo pela porta.
         Corri atrás dela, e quando finalmente achei, vi que... Ela estava junto de outro.
         Um cara de cabelos pretos e camisa xadrez apareceu junto dela. Lucia ainda olhou para mim por um instante, triste, pude ver, mas acima de tudo com culpa.
          "Desculpe..." Ela pediu.
          Depois saiu dali, sumindo numa ladeira da Beira Mar.
          Senti um arder no peito, e sabia que não poderia segurar mais. Meus amigos foram atrás de mim.
          -Viu só, mermão! Tu é o sucesso da noite! - Samuel falou, entusiasmado.
          -Tá vendo, Pedrão! Eles te adoram! Vai lá! - Raíque falou.
          -Velho, a gente podia formar uma banda, ai todos nós iriamos ser famosos e... - Norato falou.
          -Pedro? Tá tudo bem? - Guto perguntou. Ele percebeu algo estranho em mim, já que eu não olhava para eles. Não queria que eles vissem as bostas das minhas lágrimas.
           -O que foi? - Norato perguntou, se aproximando.
           -Tá tudo bem, velho? - Raíque perguntou.
           -Tá, tá. - Eu consegui falar, evitando soluçar.
           -Então, por que cê tá...?
           Antes que ele terminasse de perguntar, abracei eles quatro, não sei como, e desabei. Nossa, senti minha masculinidade vazando, mas eu não liguei. Não aguentava mais. Precisava dizer o quanto eu estava triste, o quanto eu estava decepcionado, e o quanto eu guardei minhas lágrimas por uma menina que não está nem ai pra mim. Pus tudo pra fora, e meus amigos apenas me abraçaram, calados.
            Eu posso não ter sorte com garotas. Mas sei que tenho quatro almas gêmeas.
           
         
         
     

         
       

5 comentários:

  1. Muito lindo Pedro! T_T Teve tudo q eu gosto nesse post. Foi um dos melhores posts desse blog. Ficou perfeito. =D

    E uma segestão: Cria uma personagem nova q se apaixone por Pedro e faça Lucia ter inveja. =D
    Pra ficar mais apimentado a personagem podia ser uma vampira ou uma bruxa ou uma mulher-loba ou uma succubus ou uma fantasma ;D

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  2. tá né, tailan, pode ser todas as criaturas mágicas que existem KKKKKKKK
    Não sei, o Pedro tá mó triste. Até eu fui consolar ele, mas nem deu. Nao sei se ele vai querer uma namorada nova. Mas... Quem sabe?

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  3. PS: Esqueci de falar que "a personagem" pode ser uma sereia também. ;D

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  4. eu amo vida de tritao e quero muito sere um tritao alguem pode me ajudar se souber como me procura noi face meu nome la no face e dickson victor ...!!:D (:

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  5. cara desde o video foi fodastico o cara canta muito as cenas q vc descreveu estavam ncriveis eu pude sentri toda a tristeza de pedro por ver ela saindo e indo embora com outro

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