quinta-feira, 5 de abril de 2012

Capítulo 32 - Tritões e os Ipupiaras Parte 02

                  Não sei como não me canso de me "acquatransportar"  pra tantos lugares em tão pouco tempo. Quando abri os olhos, eu, meus amigos e o ipupiara Glauco estávamos em frente a uma cachoeira bem forte, num rio com a água escura como lodo.
                  -É ali.- Glauco falou.
                  -Ali?! Putz, se eu não ficar com a pele em carne viva vou ter um traumatismo craniano! Essa cachoeira é muito forte! -Guto falou. Não podia deixar de concordar com ele. A água caia com tanta violência que não haviam nem pedras abaixo dela.
                  -A gente tem que passar por ali mesmo, Raíque? - Norato perguntou.
                  -Eu não sei... Nunca passei por ali! Sempre entrei no lar dos ipupiaras com o acquatransporte.- Ele respondeu.
                   -Não tem outro jeito de entrar. A cachoeira não é tão pesada assim. - Glauco disse. - Se nadarmos por baixo, podemos ir.
                    Concordamos com ele e mergulhamos. A água era de um verde bem escuro, mas com Glauco na nossa frente, conseguimos ver o caminho. Porém, ao finalmente chegar perto da cachoeira, sentimos que a água começava a nos puxar mais pra perto. E vimos, bem na nossa frente, um grande redemoinho se formar.
                     -Mas que porra...?! - Guto perguntou.
                     "Eu juro, isso nunca esteve ai antes!!" Glauco esperneou mentalmente.
                     -Ok, não importa. Nadem!!- Eu gritei, e começamos a nadar na direção contrária. Era muito forte! Mas MUITO forte mesmo!
                     -Isso deve ser coisa da Maria! - Guto exclamou, batendo a cauda o mais forte que podia. Então, eu não consegui. A água deu um puxão e eu vacilei, sendo levado pela água.
                     -Pedroo!! - Raíque gritou.
                     Glauco nadou até mim, agarrou meu braço, mas só conseguiu ser puxado também.
                     Naquele momento, Samuel, Guto e Norato se entreolharam e sacudiram a cabeça.
         
                      -MUIRAQUITÃ, MÁXIMOO!!

                     Uma bola de luz ofuscante brilhou, e os três tritões máximos surgiram ali. Samuel ergueu o tridente até nós e nos fez ser arrastados até ele. Guto olhou para seu tridente e depois apontou-o para o redemoinho debaixo da cachoeira. O turbilhão se misturou com vários jatos de ondas sonoras e acabou se dissipando. Nadamos para perto da cachoeira. Norato meio que "abriu" a cachoeira como se ela fosse uma cortina e abriu passagem para nós.
                    Era... Bom, não consigo descrever. Era um grande lago com algumas plantas na margem e umas pedras na água. Não havia ninguém a vista, o que tornava o lugar bonito e tenebroso.
                    Glauco começou a fazer um barulho esquisito, como se fosse um peixe gemendo. Eu e os outros nos entreolhamos e prestamos atenção nele.
                    -Eles não estão aqui! - Glauco disse, começando a ficar muito nervoso. - Pra onde ela os levou?!
                      Então, sentimos um movimento na água. Glauco permaneceu a olhar os lados, mas não viu a imensa serpente de água que surgiu atrás dele. Quando se virou, o ipupiara só teve tempo de abrir a boca para falar, mas a grande criatura o engoliu e o puxou pra baixo. Sem perder tempo, nós mergulhamos e os seguimos. Mas, assim que chegamos ao fundo do lago, que era muito escuro, perdemos Glauco de vista.
                      -Glauco! Glauco!! - Raíque gritou.
                      -Calma, man! Assim vai atrair atenção da... - Guto começou a falar, mas...

                      -Maninho, pintou o cabelo, foi? -
                       Todos nós viramos de costas e demos de cara com a nossa sereia menos favorita. Maria estava ali, com as mãos estendidas e vários espirais de água flutuando ao seu lado.
                       "Uaau..." Samuel e Raíque pensaram. Eles com certeza se admiraram do quanto Maria era uma verdadeira gata, e tinha uma cintura malhada de deixar qualquer um louco. Isso sem falar dos...
                       "Eu sei. Mas não se engana, essa daí não presta não." Guto pensou.
                        -Ah, trouxeram mais dois peixinhos pro meu aquário? Que gentileza...- Maria falou, olhando desdenhosamente para Raíque e Samuel.
                        -Você é a responsavel por tudo o que está acontecendo com os ipupiaras? - Raíque perguntou, nadando um pouco para frente, mas cautelosamente.
                        -Hmm... Pelo visto, né? - Ela disse, revirando os olhos vermelhos cor de sangue.
                        -Mas o que eles te fizeram pra...?
                        -Ah, mano, vai por mim, essa daí não presta nem pra caridade. Faz maldade com todo mundo por diversão! - Guto falou, estreitando os olhos para Maria. A sereia olhou intensamente para ele, e depois sorriu maleficamente.
                        -Você é um golfinho muito bonitinho, né? E ainda mais com esses novos acessórios... - Maria disse, olhando para a nova armadura, tridente e cauda de Guto. - Vamos ver se você tem novos truques. - Dizendo isso, ela apontou para ele, e uma serpente de água se formou e correu até Guto. Ele girou o tridente e usou o braço dele para se defender do ataque. Depois, ergueu-o e jogou uma jorrada de ondas sonoras em Maria. Elas a atingiram em cheio, fazendo-a se contorcer.
                        Guto a soltou, e depois, Raíque aproximou-se mais.
                        -O que fez com eles? - Ele perguntou, sem medo. A sereia olhou pra ele com ódio.
                        -Nada, apenas deixei-os presos num lugar onde vocês não vão achar, e tomei um tipo de...- Ela ergueu a mão  e uma pedra meio amarelada coberta com musgo verde. -...Amuleto deles, que impede que o vulcão entrem em erupção.
                        Todos nós nos entreolhamos pasmos.
                         -Sua... Me dá isso!! - Raíque ergueu o braço pra pegar a pedra, mas Maria sacudiu a cabeça e um jato de água o empurrou para trás. Norato nadou para frente.
                         -Para! Por favor, Maria, para com isso. Pra que você quer fazer isso com eles? - Ele perguntou.
                        -Eles não quiseram me ajudar a acabar com os humanos. Então, resolvi que iria acabar com eles. - Ela disse, sem nenhum pingo de culpa no olhar. Vi que Norato olhava pra ela sem acreditar. Eu acho que sabia como ele se sentia. Ver sua própria irmã, uma pessoa que ele deve ter admirado tanto e gostado tanto destruir a tudo por motivos devassos. Foi quando vi que ele começou a soluçar. Meu coração saltou, odeio ver um amigo assim.
                         -Maninha... Por favor... - Norato pediu. - ...Por que não podemos ser como antes?
                         Maria olhou para ele calada um pouco, sem nenhuma expressão no rosto. Por um segundo, vi a expressão dura dela vacilar, mas aquele segundo acabou.
                         -Você sempre foi uma bichinha chorona! - Ela exclamou e ergueu os dois braços para frente, fazendo duas najas de água avançarem contra ele. Norato não teve tempo de se defender, então Samuel fez isso por ele. Ele ergueu o tridente e criou uma barreira telecinética em volta de Norato.
                         -Como você pode querer machucar seu próprio irmão? - Samuel perguntou, se aproximando de Norato. Maria olhou pra ele com desdém.
                         -Olha só... Você gosta mesmo de diversidade, hein, Pedro? - Maria riu, irônica. Nojenta. - Um loiro, um negro, um... Tarado...
                          -Ei! - Guto exclamou.
                          -... Um zé ruela... - Maria olhou para Norato, que se segurava para não chorar mais - E ainda se perguntam porque são tão ridiculos. RÁÁ!!
                           Maria soltou um grito e cinco torpedos de água sairam detrás dela e foram até nós. Eu e Raíque não tinhamos o poder máximo do muiraquitã, então nadamos para baixo o mais rápido como pudemos. Olhamos os outros lutarem em cima de nós. Norato empurrou o jato de água com a maior facilidade, Samuel fazia-os se destruirem sem nem tocá-los, e Guto os transformava em bolhas de som.
                          "Raíque! Pedro! Aqui!" Ouvimos um pensamento ao nosso lado. Olhamos para a esquerda de Raíque, e vimos uma jaula, onde estava Glauco e vários outros homens com duas caudas e peles escamosas. Todos estavam imprensados contra as grades.
                           -A sereia louca pretende pôr a larva do vulcão para fora! - Um ipupiara de cabelos verdes claros e barba longa falou, atrás de Glauco.
                           -Vocês tem que pegar a pedra chave! É o unico jeito de impedir!! - Outro ipupiara falou.
                           -Mas como? Ela é muito poderosa! - Raíque falou.
                           -Mas nós somos cinco, podemos vencer! - Eu disse.
                           -Ela controla a água, Pedro, a água! Quer dizer que ela pode manipular tudo! - Raíque falou, já ficando nervoso. Eu pus a mão em seu ombro, e olhei fixo pra ele.
                           -Se ficarmos unidos, podemos tudo, Raíque. - Eu falei. Meu amigo olhou em meus olhos por uns segundos e depois fez "sim" com a cabeça.
                           -Vamos soltar vocês. Só precisamos pegar a pedra. - Raíque disse, voltando-se para os ipupiaras presos. Glauco sorriu, ainda que com o medo estampado na cara. Nós dois nadamos para cima e nos escondemos atrás de duas alga.
                            "Samuel!" Eu chamei meu amigo mentalmente. O tritão vermelho ficou atento.
                            "O que foi? Onde vocês estão?" Ele perguntou.
                            "Estamos bem, não se preocupa."
                             "A gente precisa da pedra, Samu. Vê se arranja pra gente. Se não, a gente vai virar churrasco de peixe!" Raíque pensou.
                              "Okay, é pra já!" Ele pensou. Mas antes que movesse um musculo, um jato d'água empurrou sua barriga e pegou seu tridente.
                               -Esqueceram que eu também posso ouvir, idiotas?! - Maria gritou, e lançou serpentes de  água em nós. Raique e eu nos separamos. Eu fui para baixo, de encontro à cela dos ipupiaras. Parei em frente a ela e ergui a mão.
                                -Para trás, gente! - Eu disse. Eles se afastaram o tanto que puderam, e soltei uma descarga elétrica na grade. Itensifiquei o golpe, e a trinca explodiu. As grades cederam e os ipupiaras sairam do buraco, livres outra vez. Olhei para cima e vi Maria olhando para eles surpresa.
                                Ouvi rosnados altos ao meu lado. Olhei para os ipupiaras e... Caramba! Eles estavam mudando de forma! Glauco e os outros foram ficando verdes, os cabelos foram sumindo, foram surgindo milhares de barbatanas em diversos lugares, e seus rostos ficaram monstruosos.
                                 -VADIAAAA!!!
                                 O batalhão de ipupiaras nadou velozmente para cima, como um grande cardume de monstros. Eles estavam mesmo furiosos! Foram até Maria, que começou a nadar assustada.

                              -Hahá! Vai fugir, agora, vagabunda?! - Guto perguntou, debochando. Ele ergueu o tridente e jogou uma onda sonora nela, fazendo-a vacilar pro lado. Samuel entrou no jogo, pegou seu tridente e a empurrou com a mente.
                             -Norato, seu imprestável!! Me ajuda!! - Maria gritava, fugindo dos ipupiaras. Olhei para Norato. Ele olhou para Maria, sério.
                     -Aham. Senta lá, Maria.
                     Dizendo isso, ele deu um empurrão na barriga dela, fazendo-a ser jogada com toda a força contra os ipupiaras, que começaram a avançar nela como um bando de piranhas avançam num pedaço de carne.
                      -Não toquem em mim!!- Ela gritou. No mesmo segundo, ela criou uma barreira de turbilhões de água, fazendo os ipupiaras girarem no mesmo espaço. - Isso não acabou ainda.
                      Ela disse isso e desapareceu, deixando uma pilha de bolhas para trás.
                      Não nos preocupamos mais com ela.
                      -O vulcão! - Raíque disse.
                      -A pedra? Cadê a pedra?! - Eu perguntei.
                      -Tá aqui. - Norato disse. Ele ergueu a pedra esquisita - Peguei quando empurrei a Maria.    
                      -Certo. - Raíque disse, pegando a pedra com ele. - Agora eu vou lá.
                      -Eu vou com você - Glauco falou, já em sua forma normal de ipupiara.
                      -Todos nós vamos. - Eu falei pelos nossos amigos. Raíque sorriu e todos nós subimos.
                     
                       Havia um grande vulcão atrás de umas árvores do lado do lago. Juro que não faço ideia de como não tinhamos percebido. Porém, não era um grande vulcão, não era uma montanha, mas se entrasse em erupção, com certeza iria devastar toda a água do lago. Raíque saiu da água, tocou seu muiraquitã e virou humano. Ele foi correndo até o vulcão, na frente. Samuel, Guto e Norato sairam da água voando, batendo as super barbatanas, e eu e Glauco saimos da água como humanos. Putz! Ele era alto! E tinha o cabelo bem castanho, quase como o meu. Corremos até o vulcão que... Já soltava larva.
                       Era uma gosma amarela, não parecia larva comum. Era pior. As pedras que tocava se deterioravam na hora!
                       -Onde? Onde é que coloca essa pedra?! - Raíque perguntou, nervoso.
                       -Tem algum buraco pra encaixar na parede do vulcão. Eu sei que tem!- Glauco disse.
                       -Cuidado! - Samuel gritou. A larva estava bem nos pés deles. Glauco e Raíque se afastaram, mas a pedra escorregou da mão de Raíque e... Caiu na larva.
                        -Não! Não!! - Raíque gritou. Glauco tremeu.
                        -É o fim... Ah, meu Deus, vamos todos morrer! - Ele disse, recuando.
                        -Não! Eu posso controlar a larva, eu tenho a força química! Eu tenho!- Raíque disse. Ele ergueu as mãos, e trincou o maxilar. Ele tentava controlar a larva com o seu poder.
                        -Raíque! Sai dai!  - Samuel gritava.
                        -Tá doido, macho?! Sai dai agora! - Guto esperneou!
                        -Raíque, para! - Norato gritou.
                        Ele não ouviu. Continuou focado na larva, que chegava rastejando rapidamente até seus pés. As plantas, a grama, pedras, tudo ao redor dele foi se transformando em pó. Era aterrorizante. Nós e Glauco nos afastamos, mas Raíque permaneceu lá.
                        -Pare! - Ele ordenou para a larva.
                        -Raíque, volta aqui!- Guto gritou.
                       -Espera. Ele sabe o que tá fazendo. - Glauco falou. Fiquei calado. Eu também acreditava em Raíque. Quando ele cisma numa coisa, não tem quem tire.
                     
                         -Eu mandei parar!! - Raíque gritou.
                         Então, a larva parou. O magma amarelo deixou de correr, e uma pequena quantidade dele começou a flutuar. Uma pequena bola de magma flutuou no ar e foi voando até Raíque.
                          -Mas que porra...?- Guto e Norato perguntaram juntos. Samuel riu.
                          -Acho que eu sei muito bem.
                          O magma levitou e o muiraquitã de Raique, um peixe-leão feito de topázio, levantou-se sozinho e misturou-se à larva. Foi ai que...
                       
                          Ele se transformou!


                         Raíque foi coberto por uma bola de luz ofuscante e no momento seguinte, estava com uma cauda de peixe leão brilhante, com uma armadura feita de topázio, e barbatanas imensas, assim como os outros, iguais a asas.
                         -Caaaaraaalho, veio!!- Guto exclamou.
                         -Ei, que foda! - Norato falou.
                         Raíque só olhou para si mesmo e sorriu. Depois, ergueu a mão por sobre a larva e começou a sugá-la para si. Rapidamente, o magma transformou-se em líquido quente e foi até a mão dele. Ele balançou as barbatanas dianteiras e voou até o topo do pequeno vulcão. Com um toque bruto, ele jogou uma grande quantidade de larva e veneno nele, e depois o fez secar. O vulcão agora estava tampado para sempre.


                        Depois de muitas conversas, voltamos ao lago. Os ipupiaras estavam todos na margem, junto de um tritão com uma cauda de peixe leão quase idêntica à do Raíque. Meu amigo sorriu ao ver seu pai, e o abraçou com saudade.
                   
                         Por fim, voltamos pra casa e... Nossa, até que não foi tão longa, essa nossa aventura! Eu tinha passado só duas horas fora de casa. Glauco deu seu telefone para todos nós, sempre é bom ter um amigo com duas caudas e outros detalhes.

                         Eu fico pensando comigo mesmo... Será que eu vou mesmo ganhar o poder máximo? Uma parte de mim diz: "Claro que sim, você é tão bom quanto eles, por que não ganharia?" e outra responde " Por que eu não nasci tritão. Não sou como eles. Se eu nunca tivesse ido para o Rio Salgados naquelas férias eu nunca... Teria nem sonhado em passar por tudo isso."
                         Não sei o que vai ser de mim. Só sei que sei o que quero.

                             
                     
             
                 



4 comentários:

  1. Pedro, vc esta cada vez melhor!!!! =D Amei, adorei, chorei e ri muito com esse post. *----* Adorei vc juntar o Glauco com os Tritões, ficou massa!!!! Cara, vc é um grande escritor! Vc tem um futuro iluminado! Em cada um dos tritões eu vejo uma parte de mim. Vc também ta melhorando no desenho. =D SHOW DE BOLA!!!! Abração de serpente marinha. Valeu brother aquático! Te desejo muito sucesso, vc merece. ;D

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  2. O.o medo... kKKK okay veio, obrigado por tudo ^^ os tritões agradecem, o Pedro tá mandando um abraço, você é um dos nossos melhores fãs.

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkk... Brigaduuuuuuu =D . Manda um abraço pro Pedro-Personagem. =D

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  4. serio cara vc esta ficando cada vez melhor e a transformação do pedro to ansioso pra ver essa

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