domingo, 28 de outubro de 2012

Capítulo 33 - Um Tritão se Eleva - Parte Um

     Com certeza eu estava sonhando. Tenho absoluta certeza.

      Eu estava no mar, a água estava gelada, parecia água  de gelar cerveja! Eu estava flutuando no mar, nuvens espessas no céu e nada à frente aos lados.
Conseguia sentir tudo, o cheiro, a água... O medo.

       Pensei em mergulhar e nadar para longe, mas ouvi um estranho barulho. Um chiado parecido com o de uma águia, mas ainda mais forte. Olhei para cima e as vi:

        Milhares de sirenas, as mesmas mulheres pássaros que são a família da Lucia, sobrevoando sobre mim, como um bando de urubus voando sobre um cadáver de animal. Elas cantavam, as vozes lindas, mas a melodia assustadora. Era como um réquiem, uma daquelas músicas que se tocam em velórios, muito sombria.

        -Vão embora! - Eu gritei. Elas começaram a rir, e foram voando mais baixo, agora bem perto da água.
Então, eu vi meus amigos aparecerem. Guto, Samuel, Raíque e Norato apareceram na água, mas não pareciam me enxergar. - Galera, me ajudem!
        Eles me ignoraram. Estavam transformados em tritões máximos, todos com seus incríveis tridentes à mão. Sem nem me notar, eles mergulharam na água, desaparecendo.
        -Não! Não me deixem! - Eu gritei.
       Olhei para cima e vi uma sirena se aproximando de mim. Seus olhos negros e aterrorizantes, assim como sua boca coberta de dentes.
Era Lúcia.


      -Pedro! Pedro, meu amor, você está bem? - Acordei com a doce voz da minha mãe. Ela e Ricardo estavam no pé da minha cama, me olhando com preocupação. - Meu Deus, você está suando! Estava tendo um pesadelo? - Minha mãe perguntou, se aproximando e tocando na minha testa, sentindo minha temperatura.
       -Eu tô bem... Não tô sentindo nada. - Falei.
       -Tá dodói, Pedro? - Ricardinho perguntou - Quer meu gagáu? Eu impresto.
       Eu sorri.
       -Não, campeão, pode tomar. Eu tô bem. - Eu disse, me levantando da cama. Corri pro banheiro, ouvindo minha mãe dizer que iria fazer alguma vitamina pra mim.

        Olhei no espelho e vi que ela tinha razão. Eu estava mesmo ensopado de suor.Ainda bem que estava com o muiraquitã, senão teria me transformado em tritão bem ali na cama. Aquele sonho que eu acabara de ter fora muito real. Mesmo. Eu vi em algum lugar que sonhos podem significar previsões do futuro, ou lembranças. Já que sou um tritão, não duvido de mais nada no mundo.

         Duas horas depois, eu e minha turma estávamos reunidos na Ponte Metálica, na Beira Mar. Por incrível que parecesse, haviam poucas pessoas. Só alguns casais tirando fotos e uma galera pulando na água. Nós cinco estavamos sentados nas pedras da ponte, quase entrando na água. Olhávamos o horizonte, o sol quase nos queimando. Não tinhamos muito assunto.
         -Macho, cala a boca, não consigo ouvir o mar!! - Guto gritou. Nós o olhamos com cara de tédio.
-Ah, pelo menos tentei.
         -Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas... - Norato falou, pondo a mão no pescoço- Eu até que gostaria de uma confusão hoje.
         - Eu que o diga! Não acontece nada! - Raíque falou, se espreguiçando. - Bem que eu gostaria de dar uns socos em algum monstro marinho.
         -Ou nadar em lugares desconhecidos. - Norato falou.
         -Conhecer novas lendas e segredos das águas. - Samuel suspirou.
         -Dar uma checada em sereias gostosas...- Guto falou, balançando as sobrancelhas.
         -Eu ainda sinto falta da Lúcia. Pronto, falei.  - Eu disse.
         Meus amigos me olharam por um segundo, e depois todos reviraram os olhos.
         -Pedro, na moral, já tá na hora de esquecer essa menina! - Raíque falou. - Ela não é pra você. Se ela era esquisita quando humana, imagina agora que a gente descobriu que ela é uma sirena!
          -Eu sei disso, mas ainda assim... Eu achava que ela gostasse de mim. Pelo menos era o que parecia. - Respondi. Ela havia correspondido um beijo. Uma garota não seria tão cruel assim, seria?
           -A gente precisa te levar pra um cabaré. Talvez assim cê esquece dela. - Guto falou, dando aquele sorriso de cafajeste.
           -Guto! - Todos nós exclamamos. Ele fez cara de "O que foi?"
           -Que tal irmos nadar? O mar pode te ajudar a esquecer esses sentimentos. - Samuel disse. Eu até que achei uma boa idéia, mas duvidava que isso fosse realmente acontecer. Subimos na ponte e fomos até a ponta, onde ninguém se atrevia a ir. Mergulhamos na parte profunda do mar, bem longe da praia, e nos transformamos em tritões, deslizando pela água e sentindo as bolhas acariciando as nossas escamas.
            Era realmente a melhor sensação do mundo. Nadar como humano é revigorante e refrescante, mas sempre ficamos sem fôlego e cansados. Nadar com tritão é coisa de outro mundo, é entrar em contato perfeito com o mar, é como... Estar em casa.
             Sentamos num coral, rindo e vendo alguns caranguejos passando por ali, mas algo tirou minha atenção. Olhei para cima e vi ao longe grandes sombras passando pelo ar. Tentei ignorar, mas lembrei-me do meu sonho.
             -Pessoal! - Eu falei, fazendo meus amigos se calarem. - Eu preciso ir lá em cima. Acho que vi alguma coisa estranha.
             -O que? Acha que alguém viu a gente? - Samuel perguntou, parecendo temeroso.
             -Bem, eu acho que sim. Mas não foi humano. - Eu falei, começando a nadar para cima. Os outros me seguiram, intrigados. Cheguei à superfície e vi que estava certo. Eram mesmo elas.
             -Putz, são aquelas rolinhas de novo! - Guto falou, se aproximando de mim.
             -É melhor a gente sair daqui, Pedro, lembra do que a Rainha das Sirenas falou? - Raíque perguntou.
             - Ela disse pra gente não chegar perto do território delas. A gente tem que vazar, agora!- Norato falou, fazendo cara de medo.
              -É, vocês tem razão. - Eu falei. - Vambora.
               Eles se viraram, mas eu continuei olhando. Eram três sirenas com alguma coisa nos pés... Ou deveria dizer garras? Ah, que se dane. Elas olhavam para o que estavam carregando, e riam, como se debochassem dela.
              -Espera, tem algo errado. - Eu disse. Eu e meus amigos vimos as sirenas se afastarem um pouco e revelarem que elas estavam com outra sirena! Ela tinha o rosto todo ferido, coberto de cortes feito pelas outras. E também penas de um amarelo dourado, e olhos de águia brilhantes. E cabelos cor de mel.
              -Caraca!- Guto exclamou. - Aquela é a...
              -Lúciaa!! - Eu gritei.
              As sirenas se assustaram e olharam para nós. Assim que nos reconheceram, mostraram os dentes cumpridos e afiados, e eriçaram as asas. Eu nadei rapidamente para mais perto, mas uma sirena agarrou meu braço e me suspendeu na água.
              -Pedro!! - Guto gritou.
               Raíque ergueu a mão e jogou uma bola de plasma ácido na sirena. Ela gritou de dor ao ser queimada pela substância e me soltou, fazendo-me cair na água de costas. Debaixo d'água, me aproximei ainda mais da pedra onde Lucia estava. Tirei a cabeça para fora da água e vi as sirenas lutando com meus amigos. Norato agarrou as duas e puxou-as para dentro da água. Elas mergulharam igual a duas galinhas nervosas, e ficaram se debatendo na água gelada.
               -Lúcia? Tá me ouvindo? - Perguntei, mas ela parecia inconciente. Vi que ela tinha mesmo tomado uma surra, os braços e a região perto da barriga estavam muito roxas. Me surpreendi ao ver as penas e as asas dela sumindo lentamente, fazendo as roupas e o short dela aparecerem no lugar. Eu agarrei sua mão e procurei um Acquatransporte na água no mesmo minuto.
               -Fica parada, sua gralha azeda!!- Raíque gritava, atirando bolas de larva nela, mas a sirena urrava ainda mais alto, parecendo uma daquelas bruxas velhas de parque de terror. Guto pegou a outra sirena pelo pé e a puxou para a água.
               -Fica aqui, bebê! Ouve só o que eu tenho pra te falaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAR!!-
                Guto gritou bem no ouvido da sirena, fazendo-a desmaiar.
                -Pessoal, vamos, rápido! - Eu falei, assim que achei uma luzinha de Acquatransporte na água.
                Meus amigos nadaram rapidamente ao meu encontro. A outra sirena percebeu, e voou atrás deles. Samuel se virou e balançou o braço no ar, fazendo a sirena dar cambalhotas  e ser levada para longe pela sua telecinésia.
                 Nos demos as mãos e pensei na minha casa.
                 E sumimos dali.


CONTINUA

OBS: eu postarei as imagens desse capítulo depois.
           

       

2 comentários:

  1. Legal! Não para de escrever não, já estava com saudade.

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  2. nessa hora vinha umn clarão e terminava o desenho com a tela preta continua
    :3

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