sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Capitulo 7-Tritões se acertam Parte 1


LOUCURA, LOUCURA,LOUCURA!!
Muitas coisas rolaram hoje. Mesmo!
Primeiro de tudo, Guto decidiu que deveríamos dar o troco à irmã dele. Então, fomos à casa do Norato. Como? Simples. Seguimos ele.
Ele foi andando até sua casa, num condomínio fechado e não muito longe do meu. Norato comprimentou o porteiro e entrou sossegadamente.
-Droga... Como a gente vai passar por ele? - Perguntei. Guto sorriu e agarrou meu braço.
-Com aquilo que sabemos fazer de melhor. Encantar. - Ele disse, piscando para mim. Nos aproximamos do portão e chamamos o porteiro. Olhamos para o senhor barrigudo e com cara de sono e ativamos nossos poderes. Eu ergui o canto da boca e comecei a cantarolar a primeira coisa que me veio à mente. Minha voz era grave e melódica, suave como seda. Guto também começou a cantar e sua voz macia e menos grave ecoou a minha. Nós dois poderiamos fazer uma bela dupla sertaneja.
O porteiro deixou a boca se escancarar e ficou com os olhos pregados em nós, como um zumbi. Seu dedo moveu-se sozinho até o botão do portão e ele se abriu para nós. Agradecemos batendo de leve nos ombros dele. Entramos no condomínio sem muitos carros e algumas pessoas sentadas no banco. Guto parou de andar e me cutucou.
-Mano, a gente esqueceu do essencial.
-Do quê?
-Do andar dele. O numero do apartamento.
Soltei um palavrão e cocei a cabeça. Tive uma ideia. Fechei os olhos e me concentrei.
-O que tá fazendo? - Guto perguntou.
-Tentando chamá-lo mentalmente. - Respondi. Guto assentiu e fez o mesmo.
"Norato... Norato. Nós estamos aqui embaixo, vem falar com a gente. Por favor, cara. É só um minutinho. "
Minha intuição disse que dera certo.
Esperamos debruçados numa coluna e vimos Norato aparecer na porta do Bloco C. Ele parecia um fugitivo indo falar em sigilo com outros.
-Me sigam. - Ele falou. Nós andamos junto dele até a piscina do outro lado do prédio, onde não havia ninguém. Olhei pelos lados e não vi nenhuma alma viva. Nem o porteiro que eu e Guto enfeitiçamos. Norato abriu o portão de ferro da piscina e nos pediu para entrar.
-Então... Viemos só conversar. Se você não estiver muito ocupado. - Eu falei. Norato fez uma cara triste e se aproximou de nós. Meu coração ficou aos pulos quando ele nos empurrou e nos jogou na piscina. Foi como... Aqueles momentos câmera lenta, sabe?
Só ouvi Norato dizer:
-Desculpa.
Guto e eu caímos na água e um turbilhão de bolhas nos cobriu na mesma hora. Dezesseis segundos depois, o turbilhão se dissipou e nós nos transformamos em tritões. Emergimos nossas cabeças e vimos Maria nos olhando impiedosamente da borda.
-Parece que temos visitas... - Ela disse.
-O que vai fazer com a gente, sua louca?! - Perguntei, morrendo de vontade de atacar aquela piranha.
-Algo que já devia ter feito a muito tempo. - Ela disse. Eu não me segurei e pulei da água, pronto pra agarrar o rosto dela com minhas mãos, mas um jato de água me impediu. A água jorrou na minha barriga, tirando meu fôlego. Guto me aparou, pondo meu braço atrás de seu ombro.
- Tá afim de briga? Tudo bem. Vamo LÁÁÁÁÁAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!! - Guto soltou seu grito estridente. Felizmente, aquilo pegou Maria desprevinida. Ela pôs as mãos nos ouvidos e se encolheu. Guto tomou mais ar e elevou a potencia do grito. Maria começou a gemer e caiu de joelhos na borda da piscina. Quando Guto finalmente parou, Maria parecia tonta. Norato saiu de perto dela e foi até a borda onde estávamos. Guto esquivou-se.
-SAI DE PERTO! - Ele ameaçou. Eu sacudi a cabeça e bati a mão em seu ombro.
-Norato... - Parei para soltar um longo suspiro - Por que fez isso com a gente?
Percebi que ele estava quase chorando. Ele não aguentava mais. E nós também não.
-Vocês viram o que eu tenho que aguentar. - Ele finalmente falou.
-O que ela quer fazer com a gente? - Perguntei.
-Ela vai fazer o feitiço de banimento e selar vocês no fundo do mar.
Guto soltou um pasmo atrás de mim.
-Cê não pode deixar ela fazer isso. - Ele disse. Não entendi. Maria queria fazer um feitiço? Nós podemos fazer feitiços?
-Hoje é lua cheia. Ela pode fazer tudo. - Norato disse. Olhei para o céu e vi que ao longe o sol se punha e do outro lado a lua redonda e amarelada aparecia. Fora em uma noite como essa que eu havia me transformado em tritão. Em que as índias do Rio Salgado me transformaram no que eu sou agora. E se eu pudesse fazer alguma coisa? E se a lua interferisse em algo dentro de mim?
Não tive muito tempo para pensar. Maria se ergueu e sorriu maleficamente.

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